Título: Crescimento sem bolha
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 06/08/2005, Economia, p. 27

Varejo online conquista consumidores e deve chegar a R$9,8 bilhões em vendas

Mais promoções específicas para o cliente virtual; ampliação da forma de pagamento nas transações online; estímulo à compra nos sites por meio de uma onda de descontos. São essas as estratégias que as lojas têm usado na hora de levar os consumidores às compras pela internet. Tem dado certo. Em 2003, o comércio eletrônico movimentou R$5,1 bilhões e no ano passado, R$7,5 bilhões, segundo a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net). A previsão é encerrar 2005 com quase o dobro do que em dois anos antes: R$9,8 bilhões.

No primeiro trimestre de 2005, apenas o segmento de bens de consumo movimentou R$568,9 milhões - um aumento de 49,17% em relação ao mesmo período do ano passado. Um movimento que é, em parte, resultado das ações de empresas como a Americanas.com, cuja área de internet cresce, desde 2000, em média 104% ao ano. Livros pela internet, por exemplo, já são mais baratos do que nas suas lojas convencionais, e há promoções específicas para quem acessa o site.

Parcelamento da compra sem juros

A história se repete no Magazine Luiza: o comércio eletrônico representa 12% do faturamento da empresa. Em 2004, o crescimento dessa participação foi de 90%. E a expectativa para 2005 é aumentar em 100%, porque de um ano e meio para cá, a empresa investiu na forma de pagamento. Enquanto as lojas convencionais têm o parcelamento com juros, no site, o cliente divide o valor em até 12 vezes sem juros.

- A forma de pagamento é um dos maiores atrativos da internet. Por isso, o cliente podia em 2001 pagar em até seis vezes. Depois, passou para oito. Agora, são 12. Sem juros - conta Oteri Gerin, gerente de E-commerce do Magazine Luiza.

O varejo online apresenta um ritmo de crescimento mais forte do que o comércio tradicional. Em 2003 o varejo em geral caiu 3,67% e em 2004, cresceu 9,25%, segundo o IBGE.

- As perspectivas para esse segundo semestre são ótimas, já que os índices baixos de inflação devem conduzir à redução de juros, o que favorece a retomada de investimentos. Outro fator é o reajuste do salário-mínimo, que aumenta o poder de compra das pessoas. Sem falar na inadimplência que cede e na ampliação do crédito - diz João Gomes, economista do Instituto Fecomércio.

Cid Torquato, diretor da Camara-e.net, estima que cerca de 15 mil empresas já façam algum tipo de varejo online. O que permite que os consumidores encontrem melhores preços e formas de pagamento. Além disso, a internet facilita a pesquisa de preços:

- Em dois ou três cliques, temos, para um produto específico, os preços de todas as lojas do mercado expostos na tela do computador.

Segundo Elias Santos, gerente do Extra.com, o ritmo intenso de compras na internet estimulou o aumento de liquidações e descontos. Ike Zarmati, diretor do Ponto Frio, acrescenta:

- A compra de um item pode sair mais barata pela internet. Um produto à vista, por exemplo, pode receber um desconto. E, em alguns casos, essa redução chega a 15%.

No Shoptime, a internet, que respondia por 28% das vendas em 2002, hoje chega a 60% do total. As ações das empresas levaram os empresários Guilherme Cerqueira e Rafael Albuquerque ao e-commerce. Compram praticamente tudo pelo terminal do computador. De livros a geladeira.

- Devido à grande concorrência no mundo virtual, a internet me permite preços até 20% mais baixos. Sem contar a comodidade e a economia de gasolina - afirma Cerqueira.

Albuquerque lembra, no entanto, que já teve problemas com uma compra. Em vez de um notebook, já recebeu em sua casa um desktop:

- Isso, porém, não me afastou da internet. Só não faço compras online de alimentos.

Problemas com segurança, no entanto, podem, sim, afastar consumidores, explica o professor Nuno Fouto, do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA).

- Há potencial de crescimento, porque o brasileiro está passando mais tempo na internet. Por outro lado, esse consumidor não confia totalmente nesse tipo de transação.

- É como o medo de andar de avião. Muita gente sabe que, estatisticamente, o avião é muito seguro. Mas, mesmo assim, sua frio cada vez que entra num - completa Andre Kischinevsky, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Custos assustam pequenas empresas

O comércio eletrônico não é uma estratégia exclusiva das grandes empresas. Pequenos negócios já começam a se render ao mundo virtual.

- Nenhum outro mercado cresce a taxas de 50% ao ano. Quem não entrar ficará de fora de um setor em expansão vertiginosa - afirmou Torquato.

Os custos de logística, segurança, infra-estrutura e marketing, no entanto, tendem a afastar os empreendedores do varejo online, comentou Benito Paret, diretor da RioSoft.

- É preciso cuidado, pois falta de segurança, por exemplo, pode manchar a imagem da empresa.

À exceção de muitos empreendedores que ainda ignoram o potencial da internet, Pedro da Matta, um dos sócios da locadora virtual NetVideo, apostou na grande rede e não se arrependeu. Após cinco anos, tem cerca de cinco mil clientes, 77% deles virtuais.

- O resultado tem sido um crescimento médio de 42% ao ano.

para evitar problemas

REFERÊNCIA: Especialistas recomendam compras em sites tidos como referência ou recomendados por clientes satisfeitos.

DADOS: Vale checar se o site informa razão social, CNPJ, endereço e contatos além do e-mail.

MARCAS: Visite o site do fornecedor e, se possível, obtenha informações sobre o produto em lojas convencionais. Evite marcas pouco conhecidas.

SEGURANÇA: Só digite senhas e informações pessoais em páginas confiáveis. Busque sites com certificados de segurança e um ícone em forma de cadeado no canto inferior direito da tela. Lojas seguras têm ainda seu endereço começando com a sigla "https".

SENHAS: Evite senhas usadas em outros sites, bem como datas de aniversário, número de telefone, palavras conhecidas e seqüências numéricas ou alfabéticas.

COMPRAS NO EXTERIOR: Alguns artigos podem ficar retidos na alfândega para o pagamento de impostos ou, dependendo da forma de entrega, podem até se perder.

PAGAMENTO: Em caso de dúvidas sobre o vendedor, peça para pagar no ato da entrega.

DÚVIDAS: Desconfie de sites que têm apenas celular para contato.

INFORMAÇÕES: A Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico criou a "Cartilha do e-Consumidor", que está no site www.camara-e.net/e-consumidor.

Fonte: Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico e Andre Kischinevsky, professor da FGV