Título: CRÉDITO E EXPORTAÇÕES PUXAM EXPANSÃO DA INDÚSTRIA
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 06/08/2005, Economia, p. 29

Produção cresceu 6,3% em junho frente ao mesmo mês de 2004. No setor de bens duráveis, alta foi de 23%

Nem os juros altos nem a crise política impediram que a produção industrial brasileira crescesse num ritmo forte em junho. A alta foi de 1,6% frente a maio, a maior taxa já vista desde março do ano passado. Os números positivos predominaram na Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo IBGE. No ano, a produção cresceu 5% e, nos últimos 12 meses, 6,7%. O aumento no ritmo alcançou quase todos os setores da indústria. Em relação a maio, de 23 ramos acompanhados pelo instituto, 18 cresceram. A alta é mais intensa quando a comparação é feita com junho do ano passado: a produção cresceu 6,3%. Crédito e exportações foram o principal impulso para a indústria.

- Apesar da valorização do real, não vimos nos números das exportações qualquer reflexo dessa apreciação. Pelo contrário, as vendas externas têm surpreendido e batido recordes. Outro impulso veio do crédito consignado. Esses dois fatores puxaram para cima o setor de bens duráveis (carros, eletrodomésticos e celulares), que vem mostrando os melhores resultados - disse Sílvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE.

Essa categoria da indústria citada por Sales aumentou a produção em 8,1% frente a maio e em 23,6% em relação a junho do ano passado. Como a alta da produção dessa parte da indústria se irradia para outros campos, a categoria de bens intermediários (insumos para indústria) sentiu os reflexos: alta de 0,9% frente a maio e de 2,9% na comparação com o ano passado.

- O que mais chamou a atenção nessa pesquisa foi a consistência e a robustez do crescimento da indústria. Se a produção ficar parada até o fim do ano terá crescido 4,7% este ano - calculou Rafael Barroso, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ.

Os bens de capital, parte da indústria que indica os investimentos no aumento da capacidade, também reagiu em junho (alta de 4,2%), depois de já ter aumentado a produção em 5,2% em maio.

- Foi um crescimento generalizado entre os bens de capital. O único destaque negativo foi o setor agrícola, prejudicado pela quebra de safra este ano - disse Sales.

O avanço da indústria nos últimos meses fica mais claro quando se olha os dados do trimestre. Enquanto nos três primeiros meses do ano a produção estagnou, no segundo trimestre a alta foi de 2,1%.

- Se repetirmos esse resultado em mais três trimestres, isso significa um crescimento de 8,6% em um ano. É um desempenho muito alto - disse Barroso, da UFRJ.

Estêvão Kopschitz, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), comemorou a retomada do crescimento da indústria:

- Essa trajetória de crescimento foi interrompida nos dois trimestres anteriores.

Mas a melhoria não atingiu todas as categorias, na avaliação trimestral. A produção de bens não-duráveis caiu no segundo trimestre. Esse grupo de indústrias, que reúne alimentos, calçados, roupas e remédios, teve queda de 0,9% no segundo trimestre contra o anterior, a única taxa negativa entre as categorias pesquisadas pelo IBGE. Segundo Sales, esse recuo pode ser interpretado como uma acomodação do setor.

- Foram seis trimestres consecutivos de alta. Não acredito em reversão da tendência de crescimento, mas em acomodação. E não há ameaças para frente, o mercado de trabalho está melhorando, com discreta recuperação da massa salarial, e a inflação caindo. Esses fatores influenciam diretamente a produção desse setor - disse ele.

Em julho, produção pode ficar estável

Mas essa alta expressiva frente ao mês anterior pode não se repetir em julho. Os indicadores usados para projetar a taxa de crescimento da indústria mostram arrefecimento no ritmo. A venda de veículos caiu 1,9% em relação a junho. E, frente ao mesmo mês de 2004, a desaceleração ficou evidente:

- A alta foi de 7,8%, logo depois de essa parcela da indústria estar crescendo a taxas entre 15% e 20%. O consumo de energia também caiu - lembrou Kopschitz.

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