Título: REPASSES DE 2004 NÃO APARECEM
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 07/08/2005, O País, p. 3

Prestação de contas pode complicar ainda mais situação de Duda

BRASÍLIA. As campanhas do PT financiadas pelo valerioduto em 2004 não apareceram na prestação de contas que o empresário Marcos Valério de Souza apresentou ao Ministério Público e à Polícia Federal. Esses repasses, quando revelados, podem complicar um pouco mais a situação do publicitário Duda Mendonça e de sua sócia Zilmar Fernandes da Silveira, que vai depor na CPI dos Correios na quarta-feira. Fontes do PT e do mercado publicitário confirmaram que o esquema Delúbio-Valério financiou cinco campanhas do PT realizadas por Duda em prefeituras de capitais. Pelos serviços, o publicitário teria recebido do esquema cerca de R$20 milhões, embora o acerto inicial fosse o dobro desse valor.

A agência de Duda fez as campanhas de cinco candidatos do PT a prefeituras de capitais no primeiro turno, tendo como carro-chefe a de Marta Suplicy em São Paulo. Trabalhou ainda para os candidato em Belo Horizonte, Recife, Curitiba e Goiânia. No segundo turno, atuou na campanha de Porto Alegre, onde o petista Raul Pont amargou uma derrota histórica.

Valério e Duda travam um duelo por meio de notas à imprensa desde que o empresário revelou ao Ministério Público que Zilmar recebera R$15,5 milhões das contas da SMP&B ao longo de 2003. A lista apresentada por Valério ao Ministério Público mostra que os saques atribuídos a Zilmar e mais três pessoas que estariam a seu serviço foram feitos entre fevereiro e novembro daquele ano. Portanto, bem antes das campanhas de 2004. No mercado publicitário não se tem notícia de campanhas que tenham sido pagas antecipadamente.

Os saques já revelados teriam coberto despesas pendentes da campanha presidencial de 2002 e gastos com as convenções que o PT realizou em 2003 para a escolha dos candidatos às prefeituras em 2004.

Empréstimos para o PT já chegam a R$55,8 milhões

Valério não confirma, por enquanto, os repasses relativos às campanhas de 2004, até porque eles não estão contabilizados na soma dos empréstimos, que cresce conforme vão surgindo novas informações sobre os saques nas contas de suas empresas. Esses empréstimos que eram de R$39 milhões, segundo a primeira versão do empresário ao Ministério Público, agora já chegam a R$55,8 milhões.

Duda teria cobrado R$44 milhões pelas cinco campanhas de 2004. Na época, Valério teria prometido arranjar os recursos, mas o acordo inicial não foi cumprido, o que gerou uma crise entre Duda e o PT. Duda protestou em grande estilo contra o que considerou um calote e chegou a fazer greve de uma semana em todas as campanhas no intervalo entre o primeiro e o segundo turnos.

O repasse de recursos do esquema de Valério para o PT foi mudado a partir de 2004, como já explicou a diretora-financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos. Os saques em dinheiro por parlamentares ou seus assessores foram substituídos por repasses à corretora Bônus-Banval. Até agora, Valério já reconheceu repasses de R$3,5 milhões para a corretora, mas a análise das contas do empresário ainda não foi concluída na CPI dos Correios.

Duda negou na sexta-feira, em nota, que tenha recebido recursos das empresas de Valério. O empresário respondeu no ato, reafirmando que os emissários de Duda sacaram R$15,5 milhões em 2003 das contas da SMP&B. A contabilidade das campanhas de 2004 ainda é um capítulo obscuro nessa novela, mas a quebra do sigilo das contas de Valério e de suas empresas acabará revelando o que, por enquanto, ainda está em segredo.