Título: SACOU O DINHEIRO E MANDOU PARA A FAMÍLIA
Autor: Demétrio Weber e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 07/08/2005, O País, p. 13

Josias Gomes, do PT da Bahia, esqueceu cópia da carteira de deputado no Rural

BRASÍLIA. A situação do deputado Josias Gomes (PT-BA), que já era difícil desde o surgimento do escândalo do mensalão, se complicou ainda mais com as últimas revelações do ex-tesoureiro da agência do Banco Rural em Brasília José Francisco de Almeida Rego, uma testemunha-chave do caso. Em depoimento informal à Polícia Federal, Rego revelou que Josias fez várias transferências de dinheiro para contas de parentes logo após receber, em duas parcelas, R$100 mil repassados por Marcos Valério. No ato do saque, Josias também deixou cópia da carteira de deputado.

A revelação compromete a tese dos empréstimos para pagamento de dívidas de campanha. Para um dos encarregados da investigação sobre o mensalão, as informações do tesoureiro, se confirmadas, jogarão por terra a versão de Gomes sobre a campanha. Com isso, mesmo se escapar da punição por crime eleitoral, o deputado ainda terá que responder por corrupção e lavagem de dinheiro. Pela lista de Valério, Gomes fez dois saques de R$50 mil cada, em 11 e 18 de setembro de 2004.

Segundo Francisco Rego, tão logo recebeu os repasses, Gomes fez várias transferências para parentes. A partir daí, a PF decidiu aprofundar as investigações sobre transações bancárias do deputado.

¿ Vamos ver se estas transferências estão registradas ¿ disse um policial.

Procurado pelo GLOBO na noite de sexta-feira, Gomes não foi localizado. As informações de Rego também deixaram em apuros o deputado federal José Borba (PMDB-PR). Com uma pasta recém-comprada, ainda com a etiqueta, Borba foi à agência do Banco Rural em Brasília sacar dinheiro da conta da SMP&B. Segundo Rego, Borba chegou à agência tão logo ela foi aberta, às 11h. Um problema administrativo no Banco Central atrasou a remessa das cédulas ao Rural, o que obrigou o deputado a esperar algumas horas. O ex-tesoureiro lembra que saiu para almoçar e que Borba ficou na agência. Ao voltar, o deputado continuava esperando.

O maior contratempo surgiu quando Borba pediu ao deputado que assinasse o recibo do saque. Irritado, o peemedebista reclamou da exigência, ameaçou usar seu prestígio para reclamar à direção do banco e negou-se a assinar qualquer documento.

¿ Ele foi mal-educado e disse que iria reclamar à direção ¿ contou o gerente.

Diante da recusa de Borba a assinar o documento, foi necessário chamar Simone Vasconcelos, em Belo Horizonte, para que ela sacasse o dinheiro em seu nome e o repassasse ao deputado. A assessoria de Borba informou que ele ainda não se pronunciou sobre a acusação de que retirou dinheiro da conta da SMP&B.