Título: Partidos de esquerda jogam isca para petistas desiludidos
Autor: Letícia Helena
Fonte: O Globo, 07/08/2005, O País, p. 15

Está aberta a temporada de caça aos petistas desiludidos. Numa espécie de safári ideológico, os partidos de esquerda têm se armado de lábia e estratégias de guerra para atrair simpatizantes, militantes e filiados do PT perdidos na selva de denúncias que tomou conta do país. E, mantida a elegância, vale tudo para crescer e aparecer.

O PSOL, por exemplo, faz campanha até na internet: em seu site, um texto da senadora Heloísa Helena avisa que o partido ¿está de braços abertos¿ para quem perdeu a esperança com o PT. O PSTU, por sua vez, mira nos movimentos populares e até ampliou sua sede no Rio de olho em novas adesões. Até o minúsculo PCB faz o que pode para tirar uma casquinha desse latifúndio. Em vez de apresentar-se como um partido comunista, vem procurando estudantes e sindicalistas com a bandeira da "esquerda libertária".

¿ Não queremos surfar na crise, até porque não temos nada a oferecer. Somos os verdadeiros integrantes do Movimento dos Sem-Mensalão ¿ brinca Ivan Pinheiro, dirigente do PCB e ex-candidato do partido a prefeito do Rio ¿ Mas temos recebido sondagens de militantes desiludidos e estamos conversando. Queremos criar um bloco de esquerda.

PSOL negocia com dirigentes e parlamentares petistas

No PSOL, a expectativa é bem diferente. Nascido da expulsão do PT dos deputados Luciana Genro e Babá e de Heloísa Helena, o partido sabe que é o destino natural de dirigentes e parlamentes petistas que resolvam mudar de time. Enquanto aguarda o ok final do Tribunal Superior Eleitoral quanto à sua legalização ¿ todas as etapas previstas em lei já foram cumpridas ¿ o partido já negocia com o grupo de cerca de 20 possíveis dissidentes do PT. E também conversa com sindicalistas, líderes estudantis e representantes de movimentos populares.

¿ Queremos que o PSOL seja o abrigo para a esquerda socialista. A crise política ampliou muito nossos debates com a sociedade, mas não temos pressa. Estamos respeitando o tempo dos petistas ¿ diz Luciana. ¿ Mas não temos o monopólio da esquerda. Ficaremos felizes de ver o céu com muitas estrelas.

O discurso pluralista ¿ de direito de tendência, de livre pensar e até de ser independente ¿ que prega o PSOL é bem diferente da bandeira do PSTU, outro partido interessadíssimo no espólio do PT. Assumidamente radicais, os militantes do PSTU ampliaram sua sede no Rio pensando em crescer nos próximos meses. A quem os procura, eles deixam claro que não acreditam numa mudança institucional e que querem lutar nas ruas.

¿ Como temos uma capilaridade muito grande nos movimentos sociais, intensificamos a discussão sobre a organização partidária no país. Sabemos que estamos disputando com o PSOL, que, em tese, é a alternativa natural para quem pensa em sair do PT. Mas será que vale a pena escolher um partido igual ao PT em sua origem? Nossa aposta é na via revolucionária ¿ diz o presidente do diretório estadual do PSTU, Cyro Garcia.

Grupo de jovens tucanos também disputa filiados

E até onde se menos espera há gente de olho na herança do PT. Um grupo de jovens ligados ao PSDB tem feito reuniões em diretórios acadêmicos das universidades particulares do Rio buscando o que classifica de ¿direita petista¿.

¿ Muita gente votou no Lula, em 2002 porque entendeu que ele já não era mais radical. E o governo dele é igualzinho ao tucano. Deixando o preconceito de lado, o PSDB também pode ser uma alternativa ¿ diz o estudante de direito Carlos Augusto Vasconcelos Prata.