Título: MUSEUS DO RIO JÁ USAM TECNOLOGIA DO FUTURO PARA PROTEGER O PASSADO
Autor: Paulo Autran
Fonte: O Globo, 07/08/2005, Rio, p. 24

Instituições terão câmeras sem fio e portas abertas por reconhecimento de digitais

A velha máxima de que quem vive de passado é museu está se tornando ultrapassada no Rio. Para proteger seus tesouros antigos de roubos como o que foi descoberto há duas semanas na Biblioteca Nacional, as instituições cariocas estão investindo em tecnologia futurística de Primeiro Mundo. Além de multiplicar o número de seguranças, os administradores investem em modernidades como câmeras sem fio e que geram imagens que podem ser acessadas via internet, detectores de presença, sistema de identificação de visitantes por fotografia e rede telemática de reconhecimento de digitais para abrir salas como as de reservas técnicas só para pessoas autorizadas.

Vítima de ladrões que ano passado roubaram e danificaram 26 obras ¿ entre elas ¿America tertia pars...¿, de Hans Staden e Jean de Lery ¿ o Museu Nacional recebeu R$500 mil do Ministério da Cultura (MinC) para incrementar a segurança, e está para ganhar mais R$760 mil do Ministério da Educação. Com o dinheiro, está sendo implantado um sistema de câmeras wireless (sem fio), cujas imagens podem ser acessadas por computador da casa dos responsáveis pelo museu, dono do maior acervo de história natural e antropológica da América Latina, com 20 milhões de peças. Entre elas estão ¿Luzia¿, fóssil humano mais antigo das Américas; e o Meteorito Angra dos Reis, dos mais raros e caros (no mercado negro) do mundo. Este meteorito, por sinal, quase foi surrupiado por dois americanos, em 1997.

¿ Antes, era Deus que ajudava. Só tínhamos sete homens cuidando de 20 mil metros quadrados de área construída ¿ conta o chefe administrativo do museu, Wagner Martins. ¿ A instalação das câmeras é complicada num prédio com mais de 200 anos. A previsão é que elas estejam funcionando até o fim do mês. Teremos ainda um sistema de controle de acesso eletrônico, com foto.

Museu da República está inventariando seu acervo

Não por acaso, um grupo de representantes da Biblioteca Nacional marcou de ir ao Museu Nacional na semana que vem para estudar os sistemas de segurança de lá a fim de implementar o seu próprio.

¿ Já abrimos licitação para instalar mais câmeras, o que não é suficiente. O novo plano de segurança, orçado em R$120 mil, prevê, por exemplo, cofres ¿ diz o presidente da Biblioteca, Pedro Corrêa do Lago.

No Museu da República ¿ de onde em 2001 sumiram 17 peças, a maioria moedas em ouro ¿ o diretor Ricardo Vieiralves tem pronto um projeto de segurança eletrônica, com direito a identificação digital e câmeras ligadas 24 horas, orçado em R$300 mil. Enquanto a verba não chega, as peças são guardadas em um cofre ao qual só duas pessoas têm acesso, juntas.

¿ As imagens captadas pelas câmeras podem facilitar as investigações em caso de roubo. Também estamos inventariando e fotografando todo o acervo, para dificultar receptação ¿ diz ele. ¿ O Brasil está envelhecendo e as peças do início do século XIX passaram a ser muito valorizadas, o que nos obriga a intensificar a segurança.

Mesmo nunca tendo sofrido roubos, o Museu Histórico Nacional há nove anos começou a cuidar mais da segurança. Tem detectores de presença e arrombamento em pontos do telhado, vitrines e janelas, fora o sistema de controle da portaria, que fotografa todo visitante. A mais recente reforma, orçada em R$800 mil, incluiu criação de caixas-fortes para a coleção de moedas e implantação de novos arquivos. Fora isto, são 25 seguranças e 70 câmeras para cuidar, entre outras coisas, da maior coleção de numismática do Ministério da Cultura.

¿ Agora vamos levar mais câmeras também para o arquivo e a biblioteca. Pedimos R$250 mil ao BNDES para isto, e conseguimos R$57 mil ¿ conta a diretora, Vera Tostes.

O Museu de Belas Artes também está aproveitando reformas estruturais para proteger melhor suas 14.429 peças ¿ como ¿O típico navio negreiro¿, de Di Cavalcanti ¿ não só de ladrões como de incêndios e inundações. O projeto de engenharia custou R$1 milhão, mas ainda são necessários R$2,5 milhões para instalar o sistema de segurança completo.

¿ Na modernização do prédio, de cem anos, contratamos a Coppe, da UFRJ, para elaborar um sistema global que inclui mais câmeras e uma rede telemática de reconhecimento de digitais para abrir salas onde se guarda o acervo só aos autorizados ¿ explica o diretor da instituição, Paulo Herkenhoff. ¿ Também criamos novas reservas técnicas, para onde foram dez mil desenhos antes mal acondicionados em uma sala administrativa, e investimos em pessoal especializado, como uma brigada de incêndio. O lugar onde se guardam obras de arte tem que ser uma fortaleza.

MAM planeja digitalizar circuito interno de TV

Os museus Castro Maya ¿ que abrigam a maior coleção pública de arte oriental da América Latina (Açude), um quadro de Salvador Dalí e a maior coleção pública de Portinari do mundo (Chácara do Céu) ¿ também são vigiados por circuito interno de TV.

Já no Museu de Arte Moderna há desde os anos 90 seguranças, 30 câmeras e mais de cem sensores. O acesso às salas do acervo só é permitido com cartões magnéticos.

¿ Agora nós buscamos recursos para converter o sistema em digital, possibilitando maior qualidade nas gravações. O projeto custará R$180 mil ¿ planeja o coordenador de Administração e Finanças do MAM, Henrique Oliveira.