Título: SERVIÇOS QUE SALVAM O EMPREGO
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 07/08/2005, Economia, p. 31

Setor já responde por 50% da abertura de vagas formais, enquanto indústria encolhe

Nem a indústria ou o agronegócio, tradicionais geradores de emprego. O setor que mais está contratando trabalhadores com carteira assinada é o de serviços e comércio, que respondeu no primeiro semestre deste ano por 50,11% do total de 966,3 mil postos de trabalho criados. No mesmo período do ano passado, respondia por apenas 38,45%. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.

Só nos serviços a abertura de vagas cresceu 31,62% este ano. A revelação foram os serviços técnicos especializados, que empregaram 119,5 mil especialistas em projetos de engenharia, publicidade, reordenamento de planta industrial, atividades gestoras e contábeis e assessorias para comércio exterior. Em igual período de 2004, foram abertas 88,6 mil vagas nessa categoria.

¿ Os indicadores sinalizam um aquecimento em diversos segmentos da economia no segundo semestre ¿ disse a coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho do ministério, Paula Montagner.

De olho em novos mercados, o Consórcio Flor Brasil (reúne 12 empresas do Distrito Federal e fabrica biquínis e fitness para exportação) contratou, há quatro meses, Carolinna Ribeiro. Formada em Relações Exteriores, ela é responsável por abrir canais com novos compradores e auxiliar no envio das mercadorias.

¿ As maiores oportunidades de emprego estão nas micro e pequenas empresas. Mas elas ainda enfrentam dificuldades para exportar seus produtos ¿ disse Carolinna.

Indústria: abertura de vagas recua 40%

A pesquisa do Caged mostrou que as grandes redes de supermercados estão perdendo lugar para pequenos comércios ¿ padarias, quitandas e mercearias. Ao todo, o ramo empregou 102,9 mil trabalhadores de janeiro a junho de 2005. Também chama a atenção o desempenho dos serviços de hotelaria, puxado por eventos, e de restaurantes. Neste caso, os estabelecimentos mais simples, como aqueles que vendem comida a quilo, são as grandes estrelas.

O movimento no Bombocado e a necessidade se servir comida com qualidade levaram a dona do restaurante de Brasília, Maria da Graça Mundim, a ampliar o espaço e a contratar. Em dois anos, aumentou de 42 para 75 o total de funcionários.

¿ O restaurante por quilo deixou de ser bandejão, serve comida variada de boa qualidade, até à la carte, mas a um preço médio de R$15.

Outros destaques foram serviços de transporte (cargas) e comunicações (telefonia e transmissão de dados). Segundo a coordenadora do Ministério do Trabalho, o bom desempenho do comércio varejista é explicado pela oferta de crédito e ampliação de prazos de financiamento, sobretudo de eletroeletrônicos.

Comércio e serviços também estão puxando os empregos no Estado do Rio ¿ e não a indústria petroquímica, como sempre acontecia. De 56,7 mil postos de trabalho criados no primeiro semestre, os dois segmentos abriram 36,3 mil vagas. E mais da metade só de serviços técnicos especializados, seguidos por hotelaria e ensino. Depois, aparecem as indústrias de autopeças, aço e química. Entre as cidades do estado, primeiro está a capital (23 mil postos), seguida por Campos e Macaé.

O levantamento mostrou também aspectos negativos do mercado formal de trabalho este ano, como a indústria calçadista. E quem está demitindo são fábricas de calçados finos, destinados à exportação. No Vale dos Sinos, no Sul, foram eliminadas cerca de sete mil vagas ¿ e em Franca (SP), outras seis mil. Entre as causas, explicou Paula Montagner, estão a valorização do real frente ao dólar e a concorrência com a Argentina.

Outro setor que apresentou resultado ruim devido ao câmbio foi o de móveis, que registrou um saldo negativo de 3.248 no primeiro semestre. A coordenadora do ministério acrescentou que os dados do Caged confirmam a desaceleração no nível de emprego na indústria (no semestre, o número de vagas abertas caiu 40%) ¿ efeito da alta na taxa de juros. Já no agronegócio o recuo foi de 13%. Segundo o professor da Unicamp Marcio Pochmann, a indústria e a agricultura estão tendo peso pequeno na ocupação, enquanto comércio e serviços ligados à exportação estão atraindo mais mão-de-obra.

¿ De cada quatro empregos formais, só um é na indústria ¿ afirmou o economista.