Título: BID CONDICIONARÁ CRÉDITO À AÇÃO ANTICORRUPÇÃO
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 07/08/2005, Economia, p. 33

Presidente eleito da instituição adotará tema como prioridade, atendendo a desejo do governo dos Estados Unidos

WASHINGTON. Como bom diplomata, o embaixador da Colômbia nos Estados Unidos, Luis Alberto Moreno, não abre o jogo. Seu forte sempre foi trabalhar nos bastidores. E não está sendo diferente nos últimos dias, como presidente eleito do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), posto que assumirá no próximo dia 1º de outubro. No entanto, o grande patrocinador de sua candidatura ¿ o governo dos Estados Unidos ¿ já está mandando recados ao continente sobre o futuro da instituição: que os governos se preparem, pois o combate à corrupção será uma das prioridades do BID.

¿ Por que uma região tão rica, tanto em matérias-primas como em valores humanos, continua pobre? Por que essa imensa desigualdade? Por que a pior distribuição de renda do mundo? A corrupção, sem dúvida, está na raiz do problema. E o BID certamente cuidará disso com muita atenção ¿ disse o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, Nicholas Burns, ao GLOBO na última quarta-feira.

Moreno, 52 anos, já deu sinais de atuação nesse sentido na primeira conversa que teve com os representantes dos países da área no BID.

¿ É necessário aprofundar os programas de transparência na administração pública e de reforma do Estado, dando atenção especial à luta contra a corrupção ¿ disse ele.

Apesar de o próprio Moreno manter silêncio sobre detalhes a respeito, argumentando que está se ¿aclimatando, buscando aprender mais sobre o BID¿, um funcionário do Departamento do Tesouro americano revelou que a idéia é criar certas condições, daqui por diante, para a concessão de empréstimos:

¿ Sem dúvida, o grau de corrupção de um país terá um certo peso nas futuras decisões sobre empréstimos. Os desembolsos, por exemplo, poderiam ser vinculados a prestações de contas, a comprovações dos gastos feitos com o dinheiro já entregue ¿ afirmou ele, deixando claro que o governo dos EUA está inclinado a ter um papel mais incisivo nas decisões da diretoria do BID.

Colombiano tem relação estreita com a Casa Branca

Há sete anos em Washington, Moreno foi um dos principais artífices do Plano Colômbia ¿ o programa de ajuda militar dos EUA na luta contra o narcotráfico e a guerrilha no país latino-americano. Seu vínculo com a Casa Branca e o Congresso é tão íntimo que o governo americano usou de extrema discrição ao apoiar a sua candidatura ao BID, em detrimento do brasileiro João Sayad, atual vice-presidente do banco. O temor era de que um apoio aberto comprometesse a campanha de Moreno:

¿ Fomos bem espertos, não fomos? Trabalhamos em silêncio, muito discretamente ¿ gabou-se, sorridente, Nicholas Burns, numa conferência especial sobre a Colômbia, promovida na semana passada pelo Inter-American Dialogue, em Washington.

A ofensiva começou em novembro de 2004, numa viagem do presidente George W. Bush a Cartagena. Quando seu colega colombiano, Álvaro Uribe, contou-lhe que pensava lançar Moreno à presidência do BID, Bush endossou imediatamente:

¿ Você vai perder um grande embaixador, mas o BID ganhará um grande presidente. Conte com o nosso apoio.

Detalhe curioso: nessa época o presidente do BID, Enrique Iglesias, sequer havia mencionado publicamente que pretendia renunciar ao posto.