Título: DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO NÃO ASSUSTAM
Autor: Carlos Vasconcellos e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 07/08/2005, Economia, p. 35

A crise política, ao menos por enquanto, está passando ao largo das decisões de investimentos das empresas européias. Enquanto alguns executivos temem mais os efeitos sobre a economia dos juros altos do que das intermináveis CPIs, outros, olhando de fora, não se surpreenderam com as denúncias de corrupção envolvendo um governo sul-americano.

Para o diretor de Comunicação Corporativa da francesa Michelin, Carlos Eduardo Pinho, a crise política é ¿uma turbulência que não vai atrapalhar o vôo¿. Segundo ele, para investimentos de longo prazo, não se pode pensar em coisas pontuais.

¿ Os juros altos e os problemas de infra-estrutura do país atrapalham muito mais que a crise política ¿ avalia.

Fábio Marinho de Araújo, gerente sênior da Área de Fusões e Aquisições da Ernst & Young Brasil, afirma que nenhum de seus clientes interessados em adquirir negócios no Brasil cogita interromper seus projetos por causa da crise política.

¿ O fato de estar sendo mostrada a corrupção não é novidade para eles. Ninguém está surpreso ¿ afirma Araújo.

Ele acrescenta que não há, entre os empresários estrangeiros, o temor de que as denúncias de corrupção envolvam diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa preocupação, que é recorrente no mercado financeiro, não seria impeditivo para os investimentos produtivos, pelo menos no caso dos clientes da Ernst & Young.

Sérgio Noschang, vice-presidente da dinamarquesa Novo Nordisk, crê na estabilidade econômica e política do país. As crises, diz ele, fazem parte do processo democrático, embora arranhem a credibilidade do país. Para ele, os eventos políticos recentes afetam primeiro o capital especulativo.

¿ No caso dos investimentos produtivos, pode haver, não uma fuga, mas uma estratégia mais conservadora, de longo em vez de médio prazo. (C.V. e L.R.)