Título: PARA KODAK, CONVENCIONAIS TÊM SEU ESPAÇO
Autor: Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 07/08/2005, Economia, p. 37

Empresa aposta na venda de câmeras a R$100 em 10 vezes

O diretor-geral da Divisão de Fotografia da Kodak Brasileira, Flávio Gomes, é um dos que defendem a tese de que o mercado brasileiro se divide em dois e há espaço para a fotografia digital e para a convencional. Ele discorda de Edmundo Salgado, diretor da Abimfi, de que as câmeras digitais estão mais populares.

¿ O Brasil das classes mais baixas ainda não tem condições de comprar uma câmera digital. Ao contrário do Brasil das classes mais abastadas, que vem substituindo a câmera convencional pela digital. O país ainda tem pouquíssimos domicílios com uma câmera e por isso resolvemos financiar máquinas convencionais que custam cem reais em até dez vezes. De agosto de 2004 a março deste ano, a venda de câmeras convencionais cresceu 60%. Estamos ganhando nas classes C e D ¿ afirma Flávio Gomes.

Segundo ele, a máquina convencional ainda é um sonho de consumo para muitos, e a digital, mais ainda:

¿ Estamos longe dos países europeus e asiáticos. Ainda vai demorar muito para termos metade do mercado com câmeras digitais.

O gerente de Marketing da Fuji, Flávio Takeda, não compartilha do entusiasmo de Gomes. Para ele, está difícil vender câmeras convencionais no Brasil, mas ainda há mercado para a venda de filmes, mesmo com a queda neste segmento.

Apesar de também ter máquinas analógicas disponíveis para venda a preços populares, a empresa não investe mais em ações de marketing para este fim. As câmeras convencionais com mais recursos já não são o alvo da Fuji há mais de três anos, porque, segundo Takeda, o preço praticamente encosta no das digitais.

Fotografia em preto e branco virou nicho de mercado

Daniel Plá, dono da rede de lojas De Plá, diz que é preconceito achar que a câmera digital não é acessível às classes C e D.

¿ Essa camada da população imprime as fotos justamente por não ter como armazenar as imagens em computador ou CD. Por isso colocamos o preço da impressão em nossa rede de lojas próximo da revelação convencional.

Espremida entre estes dois universos, a fotografia em preto e branco é a que mais sente os efeitos do mundo digital.

¿ A foto em preto e branco está ficando esquecida. A digital tem recursos para transformar uma foto colorida em preto e branco e os fabricantes estão redirecionando investimentos em função disso. A Kodak só mantém a fabricação de filmes como o Tri-X por orgulho, mas sem qualquer rentabilidade ¿ lamenta Marcelo Alram, da Krono Kroma, uma das poucas lojas no Rio que ainda trabalham com fotos em preto e branco. (Erica Ribeiro)