Título: O SÍMBOLO MAIOR DA GUERRA FRIA
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 07/08/2005, O Mundo, p. 40

O desenvolvimento da arma nuclear marcou fases da tensão entre EUA e URSS

A bomba nuclear não foi apenas o fim do mais sangrento conflito da História. Foi também o marco inicial de um reordenamento das relações internacionais que se tornou conhecido como Guerra Fria, a tensão permanente entre as potências nucleares, EUA e URSS. O equilíbrio de poder entre os Estados passou por uma revisão depois que se percebeu que centenas de ogivas nucleares poderiam riscar da Terra qualquer país.

Muitos especialistas afirmam que a Guerra Fria começou ainda no calor da Segunda Guerra Mundial. Em agosto de 1945, o Japão se tornara o alvo da disputa entre americanos e soviéticos, já não mais aliados.

¿ Havia indicações de que os japoneses se renderiam logo. Poderíamos ter vencido sem a bomba. Mas na Europa tínhamos sido aliados da Rússia. Enquanto Truman assumia o poder e a bomba era testada em julho, ele via que em vez de estabelecer governos democráticos Stalin colocara seus homens no poder na Europa Oriental. Poderíamos ter um Japão do Norte e um Japão do Sul, Tóquio dividida como Berlim ¿ analisa o professor Donald Goldstein. ¿ Truman decidiu fazer algo drástico.

E a medida drástica era a bomba, um sinal aos soviéticos do poder americano.

¿ Há muitos historiadores que argumentam que a decisão de usar a bomba atômica foi tanto um alerta aos soviéticos e uma demonstração do poder americano quanto uma arma para incapacitar o Japão ¿ disse a historiadora Caroline Cox.

Mas foi com o clarão cegante da bomba de Hiroshima que se inaugurou a Guerra Fria.

¿ Ela influenciou a Guerra Fria de modos incontáveis ¿ diz o professor Robert McMahon, da Universidade da Flórida.

Estabilidade na Europa, tensão no Terceiro Mundo

Ele divide a Guerra Fria em três fases. O primeiro período teria sido entre 1945 e 1949, quando os EUA tinham um domínio completo, pois os soviéticos só testaram sua primeira bomba em 1949. A segunda fase, após os soviéticos dominarem a bomba, vai até meados dos anos 60. A partir daí produziram uma arsenal nuclear que ameaçava os EUA. McMahon cita como exemplo a crise dos mísseis de 1962:

¿ Parte da razão para a crise em Cuba ter sido resolvida a favor dos EUA é que havia um grande desequilíbrio nuclear. Em outubro de 1962 os EUA tinham 17 ogivas nucleares para cada ogiva soviética. E os mísseis balísticos intercontinentais soviéticos não eram confiáveis.

Depois disso, surgiu o fenômeno da destruição mútua assegurada, na qual os dois tinham o poder de reagir a um ataque de forma devastadora. Isso mudou a natureza da Guerra Fria.

A pressão psicológica da bomba teve grande efeito na política internacional. Nos primeiros dias a Europa Ocidental se tornou dependente da proteção dos EUA, pois havia uma preponderância militar da URSS.

Especialistas argumentam que, se as armas nucleares possibilitaram o período conhecido como a Longa Paz Européia ¿ só 20 mil europeus morreram em confrontos políticos entre 1945 e 1990 ¿, exportaram a violência para América Latina, Ásia e África, como as guerras em Vietnã, Afeganistão e Guatemala. (Renato Galeno)

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