Título: APOCALIPSE EM BREVE
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 07/08/2005, O Mundo, p. 40

Os aniversários dos bombardeios em Hiroshima e Nagasaki propiciam apenas a mais sombria reflexão e a mais calorosa esperança de que o horror nunca se repita.

Nos 60 anos seguintes, os bombardeios assombraram a imaginação do mundo, mas não a ponto de conter o desenvolvimento e a disseminação de armas de destruição em massa infinitamente mais letais.

Uma preocupação relacionada, discutida na literatura técnica bem antes de 11 de setembro de 2001, é a de que armas nucleares poderão cedo ou tarde cair nas mãos de grupos terroristas.

As recentes explosões e mortes em Londres são também outro lembrete de como o ciclo de ataques e respostas pode se ampliar, imprevisivelmente, até um ponto terrivelmente pior do que Hiroshima ou Nagasaki.

O poder dominante no mundo concede a si próprio o direito de fazer a guerra de acordo com sua vontade, sob uma doutrina de ¿autodefesa antecipatória¿ que cobre qualquer contingência que escolher. Os meios de destruição se tornam ilimitados.

As despesas militares dos EUA se aproximam à de quase todo o resto do mundo combinadas. Tem havido esforços para fortalecer a fina corda sobre a qual a sobrevivência está pendurada. O mais importante deles é o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP).

O TNP está enfrentando um colapso, primeiramente porque os Estados nucleares não cumprem a obrigação do Artigo VI de prosseguir nos esforços para eliminar armas nucleares. Os EUA têm aberto caminho para a recusa a obedecer ao Artigo VI.

O presidente Jimmy Carter chamou os EUA de ¿o maior acusado pela erosão do TNP. Enquanto diziam proteger o mundo de ameaças de proliferação em Iraque, Líbia, Irã e Coréia do Norte, líderes americanos não apenas abandonaram restrições existentes no tratado mas também declararam planos de testar e desenvolver novas armas, incluindo mísseis antibalísticos, a bunker buster (que penetra a terra) e talvez algumas novas bombas `pequenas¿. Também abandonaram promessas passadas e agora ameaçam o primeiro uso de armas nucleares contra Estados não-nucleares¿.

A corda quase arrebentou nos anos depois de Hiroshima, repetidamente. O caso mais conhecido foi o da crise dos mísseis cubanos em outubro de 1962, ¿o momento mais perigoso da História da Humanidade¿, como Arthur Schlesinger, historiador e ex-assessor do presidente John F. Kennedy, observou em 2002.

Os líderes de Washington puseram de lado os programas de não-proliferação e dedicaram suas energias e recursos a levar o país à guerra por meio de um fraude extraordinária, e depois tentando gerenciar a catástrofe que criou no Iraque. A ameaça e o uso de violência estão estimulando a proliferação nuclear juntamente com o terrorismo jihadista.

NOAM CHOMSKY é lingüista e catedrático do Instituto de Tecnologia de Massachusetts