Título: DIRCEU INTERVÉM E DERROTA TARSO GENRO
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 08/08/2005, O País, p. 3

Ex-ministro da Casa Civil garante legenda do PT para 2006 se vier a renunciar

SÃO PAULO Embora tenha declarado na CPI dos Correios que não renunciará ao mandato, o deputado José Dirceu (PT-SP) garantiu o seu direito e o dos demais parlamentares petistas envolvidos nos casos do caixa dois de terem a legenda do PT garantida para 2006, mesmo se deixarem seus cargos agora. A medida é contrária ao que o presidente nacional do PT, Tarso Genro, defendia. Na reunião de anteontem do diretório nacional, Dirceu implodiu o pacto de Tarso com as correntes internas, de centro e esquerda, que pretendiam proibir as renúncias.

A intervenção direta de Dirceu no acordo causou constrangimentos, pois o ex-ministro da Casa Civil já tinha articulado outras derrotas de Tarso, na mesma reunião. Dirceu e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) tornaram inviável também a possibilidade de os parlamentares envolvidos no escândalo serem submetidos rapidamente à comissão de ética do PT.

"Tenho autoridade moral para ser contra", disse Dirceu

A resolução que impediria os deputados suspeitos de renunciar já era considerada consensual por Tarso, quando Dirceu interveio:

- Não é consenso. Eu sou contra - disse Dirceu.

- Mas, Dirceu, a proposta foi inspirada em você, que disse que não renunciaria. Isso é consenso, não é, Tarso? - apartou o deputado Chico Alencar (PT-RJ), que integra o grupo de parlamentares rebeldes.

- Então, eu tenho autoridade moral para ser contra - insistiu José Dirceu.

Para quebrar o impasse entre Dirceu e Tarso, Francisco Campos, secretário nacional de Mobilização, pediu quórum e verificou que a reunião já estava esvaziada, por volta das 19h. Ou seja: prevaleceu a opinião de Dirceu.

A cassação de Dirceu na Câmara está sendo considerada inevitável pelo grupo do deputado no PT.

- No partido ele fica intocável, ele é intocável. Mas na Câmara não vamos conseguir segurá-lo. Enquanto Dirceu não cair, a oposição não nos dará trégua- disse um articulador parlamentar.

Um interlocutor de Dirceu confirmou ontem que ele trabalha com a hipótese de cassação e que a renúncia não estaria descartada.

- Ele (Dirceu) está combalido, cansado, mas é um guerreiro. Não vamos pressioná-lo nem tirar seu direito de decidir se renunciará ou não - afirmou um dirigente petista próximo de Dirceu.

Internamente, o ex-ministro deu uma demonstração absoluta de força anteontem e entrou em rota de colisão com Tarso, mais empenhado a dar respostas à sociedade e à militância.

Em silêncio durante quase toda a reunião do diretório, Dirceu iniciou suas articulações na sexta-feira, durante uma reunião de sua corrente, o Campo Majoritário. Depois da saída de Tarso, deixou claro que não gostou das decisões do atual presidente do partido, de punir o ex-tesoureiro Delúbio Soares e os deputados. Mandou emissários negociarem com Delúbio, que fez uma carta pedindo a própria suspensão por tempo indeterminado, o que inviabilizou a punição (correntes de esquerda chegaram a propor a expulsão do ex-tesoureiro). O senador Aloizio Mercadante e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia ficaram encarregados de falar no diretório, enquanto Dirceu se resguardou.

Mercadante conseguiu driblar a comissão de ética para os parlamentares. Ele evocou a burocracia estatutária e conseguiu postergar a abertura de comissão de ética para os envolvidos.

- Não podemos prejulgar e o partido tem um estatuto.

Projeto para tornar parlamentar inelegível por 12 anos

Segundo Marco Aurélio Garcia, o PT não pode criar um "tribunal de exceção".

- Não podemos sair punindo, simplesmente - disse.

As medidas desagradaram a outras correntes, que deixaram a reunião decepcionadas. O deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), da ala esquerda, vai apresentar esta semana um projeto de lei que torna inelegível por 12 anos qualquer parlamentar do Congresso Nacional, de Assembléia Legislativa e de Câmara Municipal que renunciar a seu mandato.

Legenda da foto: JOSÉ DIRCEU: intervenção evitou que fosse votada proposta defendida por Tarso