Título: Cheiro de pizza no PT
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 08/08/2005, O País, p. 3

Berzoini propõe que petistas que usaram caixa dois sejam apenas advertidos ou suspensos

O secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, defendeu ontem a divisão dos parlamentares e dirigentes petistas envolvidos no escândalo do mensalão em dois grupos. O primeiro, formado pelos dirigentes que operaram o esquema de Marcos Valério, além dos parlamentares que não conseguem justificar o destino do dinheiro sacado das contas do publicitário, seria punido com expulsão. O segundo grupo, integrado por parlamentares que usaram o dinheiro para pagar contas de campanha com recursos do caixa dois, receberia punições mais brandas como advertência ou suspensão temporária. Pela proposta de Berzoini, apenas o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o deputado Josias Gomes da Silva (BA) seriam expulsos.

Para os parlamentares que conseguirem comprovar que o dinheiro foi usado para pagar dívidas de campanha com caixa dois, Berzoini acha que a expulsão é uma punição excessiva.

- São situações diferentes. Acho errado, por exemplo, mandar para a comissão de ética os casos em que houve a chamada não contabilização de recursos mas não houve recuos nem mentiras. Nos casos dos recursos não contabilizados dificilmente haverá expulsão e as punições podem ser a advertência ou suspensão temporária- afirmou.

Segundo Berzoini, a medida evita também que o partido passe a imagem de estar se livrando das laranjas podres para evitar que a caixa toda seja contaminada.

Ao dar exemplos de quem integra o primeiro grupo, passível de expulsão, Berzoini citou Delúbio e Josias, que sacou R$100 mil das contas de Valério e teria distribuído o dinheiro entre parentes.

"Delúbio agiu com imprudência"

De acordo com Berzoini, caso as CPIs dos Correios e do Mensalão tragam novas provas contra petistas, a direção do partido pode usar o rito sumário para expulsar os envolvidos sem a necessidade de passar por uma comissão de ética.

- Os jornais de hoje dizem que o deputado Josias não consegue justificar os gastos em campanha. Se isso for constatado, o PT tem que tomar uma medida dura. O PT não pode tolerar corrupção. Em alguns casos, não é preciso nem mandar para a comissão de ética - disse.

Berzoini fez severas críticas a Delúbio, que anteontem pediu voluntariamente a suspensão temporária de sua filiação ao PT.

- O Delúbio agiu com imprudência e foi irresponsável, por exemplo, nas relações com Marcos Valério.

Embora defenda a permanência dos parlamentares que fizeram caixa dois no PT, Berzoini não poupa críticas aos deputados flagrados sacando dinheiro nas contas de Valério.

- Quem se excedeu e achou que a mudança de patamar nas campanhas aconteceu só por causa do crescimento do PT, não ficou atento para suas responsabilidades.

De acordo com Berzoini, até ontem seis parlamentares petistas haviam enviado relatórios, atendendo ao pedido da direção do partido, nos quais justificam o destino dos saques feitos na agência do Banco Rural em Brasília. Os demais acusados devem responder até o fim desta semana.

A lista de envolvidos com o esquema de Marcos Valério tem, por enquanto, 15 parlamentares e dirigentes petistas; sete deles são deputados federais: José Dirceu (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP), José Mentor (PT-SP), João Magno (PT-MG), Paulo Rocha (PT-PA), além de Josias. Um é deputado estadual: José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do ex-presidente do PT José Genoino. Os demais são funcionários do partido ou dirigentes estaduais.

Esquerda petista quer mais rigor

A proposta de Berzoini não encontra amparo na esquerda petista, que defende o envio de todos os acusados para a comissão de ética e o aprofundamento das investigações.

- Tem que mandar todo mundo para a comissão de ética e investigar. Antes disso não dá para fazer essa separação. A investigação pode encontrar mais gente e mais complexidades. O Guimarães, por exemplo, no começo só estava envolvido com o "cuecão" (a apreensão de de R$200 mil e US$100 mil com seu assessor José Adalberto Vieira da Silva no aeroporto de Congonhas). Agora já tem um saque dele de R$200 mil. E se acontecer isso com mais gente? Faremos o quê? Damos uma suspensão e depois, quando aparecer mais coisas, mandamos de volta para a comissão de ética?- questionou o deputado Ivan Valente (PT-SP), integrante do diretório nacional.

www.oglobo.com.br/pais

Legenda da foto: BERZOINI: "Acho errado mandar para a comissão de ética os casos em que houve a chamada não contabilização de recursos"