Título: SARNEY MENTIU SOBRE BOMBA ATÔMICA
Autor:
Fonte: O Globo, 08/08/2005, O País, p. 5

Ex-presidente alegou ao 'Fantástico' que temia reação da Argentina

Um desmentido histórico após quase 20 anos. Em agosto de 1986 a imprensa anunciava a descoberta de um buraco na Serra do Cachimbo, no sul do Pará, que estaria sendo escavado para a realização de testes nucleares. Procurado para falar sobre o assunto, o presidente da República à época, José Sarney, afirmou que: "Por esta mesa, nunca passou qualquer documento deste tipo". O então ministro-chefe do Gabinete Militar, general Rubem Bayma Denys, também negou.

Ao abrir a série de reportagens "Dossiê Brasília", sobre os segredos do poder - levada ao ar ontem no "Fantástico", pela Rede Globo - o ex-presidente José Sarney contou ao repórter Geneton Moraes Neto que mentiu para evitar problemas diplomáticos com a Argentina.

Sarney: local seria usado para testar bomba atômica

Sarney confirmou que o local, de fato, seria usado para testar "uma bomba atômica". Na época, no entanto, o Planalto afirmou que o buraco seria usado "meramente" como depósito de lixo atômico.

Sarney contou que foi informado da existência do campo de provas na Serra do Cachimbo pelo Conselho de Segurança Nacional. Segundo ele, o objetivo do programa era inserir o Brasil no clube nuclear.

- Tive uma reação de surpresa. Ao mesmo tempo, tive a preocupação de que o fato não se tornasse público, porque a notícia prejudicaria, sim, nossa aproximação com a Argentina - contou Sarney a Geneton Moraes Neto.

Sarney revelou ainda que Brasil e Argentina viviam um momento de aproximação e a existência do campo de provas revelaria que o Brasil estava de fato na corrida nuclear:

- Os argentinos também participavam, mas tanto eles como o Brasil negavam - declarou o ex-presidente.

Collor jogou pá de cal para enterrar o programa

O ex-presidente contou ainda que informou o presidente Fernando Collor sobre o assunto e que este, depois de tomar posse, jogou uma pá de cal dentro do buraco para simbolicamente enterrar o chamado programa nuclear paralelo, que previa o desenvolvimento de armas atômicas no Brasil.

Legenda da foto: Com uma pá de cal, Collor enterra simbolicamente programa nuclear