Título: Tarso, sem consenso, volta a admitir que pode abrir mão da presidência
Autor: Ilimar Franco e Adriano Ceolin
Fonte: O Globo, 10/08/2005, O País, p. 4

Petista tenta aglutinar esquerda e centro para disputar eleição no partido

BRASÍLIA. Pressionado dentro do Campo Majoritário e com sua liderança posta à prova, o presidente do PT, Tarso Genro, voltou a afirmar ontem que pode abrir mão de sua candidatura. Tarso, que ontem participou de uma esvaziada reunião com a bancada do PT na Câmara, defendeu a integração interna do PT, respeitando a pluralidade de posições, e um diálogo mais intenso da bancada de parlamentares com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista disse que sua candidatura estava mantida mas pode ser revista se um nome mais representativo do conjunto do partido for encontrado.

¿ A bancada, onde todas as forças do PT estão representadas, poderia escolher um nome de todos. Minha candidatura está disponível. O importante é que o PT tenha uma retomada estratégica e faça uma autocrítica pública ¿ disse Tarso.

A manifestação de Tarso ocorre num momento em que integrantes do Campo Majoritário avaliam que cometeram um erro ao transformá-lo no candidato da transição, com a missão de sanear o partido, e candidato nas eleições diretas de setembro, com a tarefa de garantir a permanência dos moderados no poder. Mesmo assim, os principais dirigentes do Campo Majoritário negam que ele possa ser substituído. Na reunião da bancada, o deputado José Dirceu (PT-SP) disse que apoiava a candidatura Tarso e o secretário-geral do partido, Ricardo Berzoini, negou que seu nome estivesse na lista de substitutos de Tarso.

¿ Meu nome não está colocado no processo. Mas se encontrarmos um nome, ou o próprio Tarso, que aglutine a ampla maioria isso será uma vitória para o partido ¿ disse Berzoini.

Tarso iniciou um trabalho para tentar aglutinar forças do centro e da esquerda do PT a fim de conseguir apoio a sua candidatura à presidência nacional do partido. Ele se reuniu com a bancada petista da Câmara para discutir propostas para enfrentar a crise política. À noite reuniu-se com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e hoje terá um encontro com o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, para acertar estratégias comuns entre governo e PT. Amanhã ele se encontrará com os 22 deputados do Bloco Parlamentar de Esquerda, que podem deixar o partido caso suas propostas sejam derrotadas nas eleições de 18 de setembro. Tarso minimizou suas divergências com Dirceu.

¿ Ele (Dirceu) tem identidade comigo em alguns temas, mas também divergências em outros. Muitas vezes lideramos posições diferentes ¿ disse Tarso.

Apoio à convocação do Conselho da República

O presidente do PT afirmou ainda que acha positiva a iniciativa do presidente da OAB, Roberto Busato, de propor que o presidente Lula convoque o Conselho da República para discutir soluções para a crise e uma agenda mínima de votações no Congresso. Ele defendeu também, sem dar detalhes, a aprovação de uma mini-reforma eleitoral e sugeriu que fosse discutida a aprovação de uma moderna legislação contra o crime organizado e a lavagem de dinheiro. Com o afastamento definitivo de Paulo Rocha do cargo de líder do PT na Câmara, os petistas iniciaram ontem o debate sobre seu sucessor. Eles estabeleceram um prazo de 15 dias para eleger o novo líder, mas para que o partido não fique sem comando nessa fase, Fernando Ferro (PE) permanecerá como interino. Há dois nomes cotados para ser o novo líder do PT: Henrique Fontana (RS) e Luiz Sérgio (RJ). Fontana é alinhado com a esquerda, mas tem sido um defensor do governo Lula. Luiz Sérgio é do Campo Majoritário, mas seu nome ainda não é consenso no seu grupo.

(*) Do Globo Online

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