Título: Valerioduto deu R$9 milhões ao PSDB em 1998
Autor: Lydia Medeiros/Isabel Braga/Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 10/08/2005, O País, p. 8

Em novo depoimento à CPI dos Correios, Valério confirma que repassou R$15,5 milhões a Duda Mendonça

BRASÍLIA. O empresário Marcos Valério de Souza revelou ontem, em novo depoimento na CPI dos Correios, detalhes dos empréstimos de R$9 milhões feitos para favorecer a coligação do PSDB na campanha pela reeleição do então governador Eduardo Azeredo, em 1998. Valério também centrou fogo no publicitário Duda Mendonça, reafirmando que repassou a ele R$15,5 milhões, sendo R$4,5 milhõe da campanha de Azeredo feita em 1998. O restante teria sido repassado dos empréstimos feitos para o PT. Ainda apresentou o recibo do depósito. A lista de 75 sacadores de 1998 soma R$1,8 milhão, mas os empréstimos totalizariam R$9 milhões.

Da lista de 1998, segundo Valério, constam dois secretários do governo Aécio Neves: o de Direitos Humanos, João Batista Oliveira, que teria recebido R$7 mil; e o de Ciência e Tecnologia, Olavo Bilac, que teria sacado R$20 mil. A candidata que mais recebeu verbas foi a ex-senadora Júnia Marise (PDT), que não se reelegeu. Ela recebeu um depósito de R$25 mil e outro de R$175 mil. o lado do nome de Júnia são citados Antônio Marun e Maria Cristiana Cardoso de Melo. Romel Anízio, hoje deputado pelo PP, recebeu R$100 mil.

O vice-presidente da CPI do Mensalão, deputado Paulo Pimenta (RS), disse que a lista prova a existência de uma operação financeira entre os PSDB e Valério, o que justificaria a convocação de Azeredo:

¿ O esquema Azeredo existiu. Cláudio Mourão (tesoureiro do PSDB em 1998) era o Delúbio de hoje. A CPI tem de convocá-lo. E também Azeredo.

Em 1996, firmas em dificuldade

Valério contou à CPI que em 1996 suas empresas estavam em dificuldade e, por isso, associou-se a Clésio Andrade, então presidente do PFL de Minas e presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Formaram ali a SMP&B Comunicação. Em 1998, a sociedade foi desfeita e Clésio candidatou-se a vice na chapa de Azeredo.

Segundo Valério, em 1998, Clésio lhe telefonou para avisar que seria procurado por Mourão. O objetivo era obter recursos para a campanha de Clésio, em empréstimos no Banco Rural.

¿ Fiz o empréstimo, de R$9 milhões, e Mourão decidiu quem deveria fazer os pagamentos. Não pagaram. Paguei ao banco R$2 milhões e o resto quitei com serviços de propaganda. O Mourão tinha uma procuração assinada pelo Azeredo para fazer os empréstimos. Com todo respeito que eu tenho pelo senador Azeredo, mas ele sabia dos empréstimos ¿ disse Valério.

Apesar de ter ¿levado o cano¿, Valério disse que não brigou com o PSDB para não perder as contas no governo.

Valério disse à CPI que no governo Fernando Henrique suas agências eram responsáveis pelas contas dos Correios, da Eletronorte e dos ministérios dos Transportes e do Trabalho.

Por meio de sua assessoria, Azeredo reiterou que não tinha conhecimento do empréstimo e voltou a acusar o PT de tentar desviar o foco da investigação.

A senadora Ana Júlia (PT-PA) tentou arrancar de Valério quem era o cabeça do esquema mineiro. Ele respondeu que quem o procurou foi Clésio.

¿ É bom que as pessoas percebam essa operação, que vem de antes ¿ disse Ana Júlia.

¿ Lá (em Minas Gerais), o objetivo era eleitoral e se concluiu no dia da eleição. A montagem que temos hoje incluiu a estrutura de governo, com o envolvimento da direção do PT ¿ disse o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman(SP).

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