Título: UMA VOLTA EM TOM HUMILDE
Autor: Lydia Medeiros/Isabel Braga e Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 10/08/2005, O País, p. 9
Valério chorou, pediu desculpas e disse ter muito medo
BRASÍLIA. O Marcos Valério que se apresentou ontem à CPI era um outro homem. Com insistentes pedidos de desculpas aos parlamentares e ao Brasil pelas omissões e mentiras dos depoimentos anteriores, ele se apresentou ontem na CPI do Mensalão como um homem acabado, endividado e arrependido. Chegou a chorar aos soluços quando lembrou o sofrimento da família, mas disse que está disposto a recomeçar a vida nem que seja vendendo bananas na esquina.
Contou que dias atrás falou com o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, a quem atribuiu em grande parte sua ruína pessoal.
¿ Disse a ele que minha vida acabou. Ele conseguiu destruir minha vida¿ afirmou, corrigindo-se logo em seguida:
¿ Quem destruiu minha vida, em primeiro lugar, fui eu mesmo. Não deveria ter feito o que fiz. Em segundo, Delúbio e o deputado José Dirceu. Sou um homem quebrado e vou trabalhar. Não vou dar cano em ninguém. Se ninguém me der emprego, Deus me deu braços: vou vender bananas na esquina para sustentar meus filhos.
O empresário mostrou claramente sua animosidade em relação a José Dirceu, a quem chamou de inimigo e concordou em ¿gênero, grau e número¿ em descrevê-lo como prepotente e arrogante e um homem que não é amigo de ninguém.
Valério rejeitou a idéia de rotular de corruptos ou ladrões parlamentares que tenham se beneficiado do esquema de financiamento. Segundo ele, esse tipo de relação entre políticos e empresas é normal e funciona em todo o Brasil.
¿ Eu me considero errado. Mas não considero corrupto nem ladrão a quem repassei dinheiro.
A sessão viveu um momento de tensão quando a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) pediu a palavra e quis esclarecimentos sobre uma homônima que estava na lista de beneficiários de 1998. Depois da leitura do nome, Heloísa Helena recebeu telefonemas de pessoas querendo saber se ela havia recebido R$5 mil.
¿ Eu vim aqui para lhe quebrar os dentes, senhor Marcos Valério! Trate de explicar que essa Heloísa Helena aí não sou eu, que tenho sobrenome Lima Moraes ¿ exigiu.
Valério garantiu que a outra Heloísa era mineira e tem o sobrenome Barras Escomini.
Em outro momento, o empresário pediu para interromper a sessão quando o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) perguntou, de forma insistente, se ele estava sendo pressionado e chantageado.
¿ Depois dessa cagada toda... Desculpa o termo, tá? ¿ disse Valério.
O deputado insistiu e Valério chorou.
¿ Tentei ser transparente como não fui na outra CPI e pedi todas as desculpas ao Brasil aqui. A história mostra que eu tenho que ter medo, eu tenho medo de tudo. Com a dimensão que as coisas tomaram, eu morro de medo. Não me sinto chantageado, mas receoso.