Título: CPI volta a levantar suspeitas sobre contrato de Gtech e CEF
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 10/08/2005, O País, p. 11

Dados de sigilo telefônico mostram negociações de acusados

BRASÍLIA. A chegada à CPI dos Bingos dos primeiros dados da quebra de sigilo telefônico volta a levantar suspeitas sobre a renovação de um contrato de R$650 milhões entre a empresa Gtech e a Caixa Econômica Federal (CEF) para o processamento de loterias. Acusado de tentar extorquir R$6 milhões da Gtech para garantir a continuidade do negócio, o advogado Rogério Buratti ligou nove vezes para um consultor da presidência da Caixa no dia da concretização do negócio, 8 de abril de 2003.

Em pouco mais de dois meses, Buratti falou 99 vezes com o consultor da Caixa Ralf Barquete Santos. Apontado como responsável pela condução do negócio, Barquete morreu dois meses depois. Buratti, segundo a quebra do sigilo telefônico, também falou nove vezes em abril de 2003 com o diretor da Gtech Marcelo Rovai, que o acusou em depoimento à CPI de ter tentando extorquir os R$6 milhões.

Em depoimento prestado ontem à CPI dos Bingos, Buratti não negou que tenha se encontrado com diretores da Gtech, mas apresentou uma versão oposta: disse que foi procurado insistentemente pelos executivos da empresa que lhe ofereceram até R$15 milhões para que ele intermediasse o negócio na condição de lobista com acesso à cúpula petista, em especial ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

O pagamento, disse, dependeria do valor e do prazo do novo contrato. Buratti já assessorou três petistas: José Dirceu, João Paulo Cunha e Palocci, de quem foi secretário de Governo na Prefeitura de Ribeirão Preto.

¿ Eles me procuraram por indicação do advogado Henrique Gianelli. Disseram que a Caixa estava sendo dura demais e que sabiam que eu tinha uma relação de amizade (com Palocci) e que poderia interferir ¿ disse ele, que ressalvou não ser amigo do ministro nem dispor dos contatos no governo imaginados pela Getch.

Dados do sigilo desmentem versão de Buratti

De novo, Buratti foi traído pelos dados do sigilo telefônico: das nove ligações registradas com Marcelo Rovai, seis foram feitas por ele. As contradições levaram o presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-RN), a antecipar a decisão de submeter os dois a uma acareação.

¿ A Gtech não estava à procura de consultor nenhum. Gianelli o apresentou matreiramente, para que o senhor apresentasse dificuldades para depois vender facilidades ¿ disse Juvêncio da Fonseca (PDT-MS).

Os senadores se interessaram pela atuação de Buratti como diretor da empresa paulista Leão Leão, da qual disse ganhar um salário de R$45 mil. A empresa, disse ele, ganhou contratos na gestão de Palocci em Ribeirão Preto. Na campanha municipal, doou R$100 mil para a campanha de Palocci e Buratti era responsável pela emissão dos cheques da Leão. Ao explicar o seu grau de amizade com o ministro, Buratti cometeu ainda uma gafe, levando os senadores a gargalhadas:

¿ Conhecer o senhor Palocci enriquece qualquer pessoa. Ou melhor, o currículo de qualquer pessoa.