Título: PF JÁ IDENTIFICOU PARTE DO BANDO QUE ROUBOU BC
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 10/08/2005, O País, p. 14

Policiais fizeram retratos-falados de três integrantes da quadrilha que levou R$156 milhões de caixa-forte em Fortaleza

FORTALEZA. A Polícia Federal informou ontem que já identificou parte dos bandidos que no fim de semana roubaram R$156 milhões da caixa-forte do Banco Central em Fortaleza. Para dificultar a coleta de impressões digitais, os ladrões jogaram cal sobre a mesa, as cadeiras e até no chão do quarto onde cavaram a entrada do túnel. Mesmo assim, os peritos encontraram impressões ontem no interfone usado pela quadrilha para se comunicar com os homens encarregados de tirar entulho do buraco. Foram achadas também impressões digitais num armário.

A PF fez o retrato falado de três integrantes da quadrilha, com a ajuda de vizinhos da casa em que eles passaram os últimos três meses. Mas não divulgou as imagens porque espera prender pelo menos um deles nas próximas horas.

À tarde, a PF descobriu na Grama Sintética, empresa de fachada que os bandidos abriram na casa em que estavam cavando o túnel, duas paredes falsas feitas de gesso e um alicerce também falso onde escondiam sacos com areia e entulho retirados da escavação.

Técnica semelhante à usada em minas de carvão

O engenheiro Roberto Kochen, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), disse que, ao construir o túnel, a quadrilha usou uma técnica parecida com a de escavações de minas de carvão, nas quais o solo é escorado por madeiras para evitar desabamentos.

Kochen acredita que o trabalho foi executado por no mínimo seis pessoas, com pás e picaretas. O engenheiro observou que os assaltantes usaram um carrinho de rolimã para se locomover no túnel e remover a terra:

¿ Numa escavação daquele porte, são extraídas, em média, cem toneladas ou seis caminhões de terra. O trabalho deve ter durado dois meses.

Ele acrescentou que a quadrilha pesquisou o solo antes de fazer a escavação:

¿ Ninguém constrói um túnel sem saber se há umidade no terreno, o que pode causar acidentes. Foi uma escavação lenta, mas cuidadosa e bem feita .

A polícia intensificou as buscas na fronteira do Ceará com Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí, Paraíba. Mas o cerco está sendo feito também em estados do Sudeste. Um dos assaltantes usou o nome falso de Paulo Sérgio de Souza e dizia ser de Niterói, no Rio de Janeiro.

PF não tem imagem dos bandidos no Banco Central

A ação da quadrilha expôs a fragilidade do sistema de vigilância do cofre que deveria ser o mais seguro do Estado. A PF não tem uma única imagem dos bandidos dentro do Banco Central apesar dos sensores de movimento e das câmeras de segurança da caixa-forte estarem intactos. Para surpresa dos policiais, as câmeras do circuito interno de televisão não gravam, apenas exibem as imagens num monitor que seria observado por funcionários de uma empresa de vigilância terceirizada.

A Servis Segurança, que presta serviços de vigilância armada, reafirmou ontem que sua responsabilidade estava restrita à área externa do prédio e ao controle da entrada e da saída de pessoas.

¿ O equipamento de segurança não funcionou a contento ¿ disse o delegado da PF Luís Vagner Mota Sales.

A observação das imagens do cofre estaria sob a responsabilidade de outra empresa, mas o Banco Central não confirmou essa informação. O delegado da Divisão de Crimes contra o Patrimônio da PF de Brasília, Antônio Celso, está em Fortaleza para ajudar nas investigações.

O túnel construído com uma profundidade aproximada de três metros tinha até interfone. O aparelho funcionava como uma extensão instalada logo na entrada do buraco. Dentro havia rolos de mangueira provavelmente usados para molhar a terra e até uma bacia plástica que pode ter servido para ajudar no transporte do dinheiro. Em outros cômodos da casa ainda havia muitos instrumentos de trabalho como lanternas, pilhas, e até caixas com luvas cirúrgicas e toucas brancas, como as usadas por médicos em centros cirúrgicos.