Título: Tensão na bomba
Autor: Aguinaldo Novo e Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 10/08/2005, Economia, p. 25

Analistas apostam em queda do petróleo e não acreditam em reajuste cogitado pela Petrobras

Opresidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, voltou a acenar ontem com a possibilidade de reajuste dos preços dos combustíveis, caso as cotações do petróleo no exterior se estabilizem no nível atual (acima de US$60 o barril). Segundo ele, não é possível ¿descolar o Brasil do resto do mercado internacional¿. Mas, apesar da defasagem do preço da gasolina no Brasil em relação ao valor do combustível lá fora, analistas não crêem em reajustes nas próximas semanas.

Para o coordenador do IPC da Fundação Getulio Vargas, André Braz, o impacto do aumento do combustível para o consumidor seria alto no mês em que ocorresse. Cada ponto percentual de reajuste na gasolina soma 0,03 ponto no índice de preços ao consumidor. Ou seja, uma alta de 10% na gasolina pode significar aumento de 0,3% no IPC. E inflação, sobretudo o IPCA, é decisiva para o Banco Central na hora de fixar os juros.

Dólar menor alivia defasagem

Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), cita dois fatores favoráveis à manutenção dos preços da estatal: a produção nacional de petróleo tem crescido a taxas elevadas e o câmbio tem sido favorável. O real já registra uma valorização acumulada no ano de 15,64% em relação ao dólar.

¿ De janeiro até agora a Petrobras deixou de ganhar cerca de R$2 bilhões por não reajustar os preços dos combustíveis. Mas não acredito que a companhia vá aumentar os preços nas próximas semanas, ainda mais com a crise política atual ¿ afirmou Pires.

O analista Emerson Leite, do Crédit Suisse First Boston, disse que a desvalorização do dólar no Brasil praticamente anulou os efeitos negativos das altas de preços internacionais do petróleo para a Petrobras. Por isso, segundo ele, a expectativa é de que no segundo trimestre do ano a empresa tenha lucro recorde de R$6,1 bilhões ¿ o que elevaria o ganho do semestre para cerca de R$11 bilhões.

A estimativa de diversos analistas é de que a defasagem dos preços da gasolina vendida pela Petrobras varia entre 12% e 20%. No caso do diesel, 13% a 20%. Há duas semanas ¿ com um dólar mais caro do que o atual ¿ o diretor-geral interino da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, disse que o preço da gasolina no Brasil ¿ um mercado livre, que acompanha cotações internacionais ¿ acumulava uma defasagem de 30%. Ontem, Gabrielli respondeu que não trabalha com dados sobre defasagem:

¿ Nosso problema não está no valor do barril, mas na sua oscilação ¿ disse o presidente da Petrobras, em seminário em São Paulo. ¿ Se continuar essa variação muito grande, não há necessidade de aumentar os preços, porque não se caracterizou um novo patamar. Mas se os preços se estabilizarem num novo patamar, teremos de reajustar.

Segundo ele, o governo trabalha com dois cenários para o petróleo. A curto prazo, o mais provável seria a manutenção de preços mais altos do que os existentes. Mas Gabrielli vê alguns elementos puxando as cotações para baixo até dezembro:

¿ Estamos atuando num mercado de absoluta incerteza.

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, faz coro às explicações de Gabrielli, afirmando que um reajuste só seria estudado após o fim das oscilações dos preços.

Se a Petrobras tem como manter os preços defasados, o mesmo não ocorre com as refinarias privadas. A Ipiranga chegou a parar a produção este ano e vem reduzindo suas atividades, enquanto Manguinhos está paralisada e ameaça fechar as portas.

Para o analista Alexandre Magalhães, da ARX Capital, os preços do petróleo devem ficar em torno de US$55 barril nos próximos meses. Magalhães lembra que além do forte consumo, principalmente dos EUA e da China, nos últimos anos não foram feitos investimentos significativos para aumentar a oferta no mundo. Por isso, qualquer notícia provoca oscilação nos preços. O consumo mundial está em torno de 83,2 milhões de barris diários, contra uma oferta de 84,7 milhões de barris.

Ontem, os preços do petróleo no mercado internacional recuaram da alta histórica obtida na segunda-feira, devido a um movimento de embolso de lucros. Analistas alertam, porém, que a tensão no Oriente Médio e problemas estruturais nas refinarias americanas são fatores de pressão. Em Londres, o preço do petróleo do tipo Brent (referência) recuou 1,2%, para US$61,98 o barril. Já em Nova York, o leve americano perdeu 1,4%, para US$63,07 o barril. Na véspera, o seu preço bateu recorde histórico: US$64,27.

(*) Com agências internacionais

INFLAÇÃO PELO IPCA É A MENOR EM 5 ANOS, na página 26

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