Título: Telefone e álcool sobem, mas inflação pelo IPCA é a menor em cinco anos
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 10/08/2005, Economia, p. 26

De janeiro a julho, índice foi de 3,42%, influenciado por quedas de preços

Os reajustes das tarifas telefônicas e dos combustíveis foram o principal foco de pressão no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, que ficou em 0,25%, depois de registrar deflação ¿ queda de preços ¿ de 0,02% no mês anterior, conforme divulgou ontem o IBGE. Mesmo assim, houve, ou estabilização ou movimento de queda de preços ou estabilidade, o que levou o índice a registrar a menor taxa acumulada no ano desde 2000: 3,42%. Nos últimos 12 meses, o índice, que orienta o sistema de metas de inflação do governo, também recuou, para 6,57%, contra 7,27% em junho. Este ano o alvo fixado é de 5,1%.

¿ Além do acumulado em 2005 ser o menor em cinco anos, a taxa dos últimos 12 meses baixou do patamar de 7%, que chegou a 8% entre março e abril, para 6,57%, num movimento claro de desaceleração dos preços ¿ disse Eulina Nunes, gerente do Sistema de Índice de Preços do IBGE.

Somente as altas da telefonia (4,21%), do álcool combustível (2,05%) e da gasolina (0,87%) responderam por 80% da taxa de 0,25%. Sem esses reajustes, a inflação ficaria em apenas 0,05%. Segundo Eulina, houve problemas climáticos afetaram a safra de cana-de-açúcar, o que elevou o preço do álcool. Como a gasolina é misturada ao combustível, sofreu também ajustes no preço.

¿ Há uma defasagem de 20% no preço da gasolina aqui no Brasil em relação ao mercado lá fora. Mas as atas do Copom (Comitê de Política Monetário) não mostraram preocupação com as altas do petróleo. Não há projeção para reajuste de gasolina este ano nas contas do Banco Central ¿ disse Maria Andréia Parente, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Para agosto, IBGE vê poucas pressões das tarifas

No sentido oposto, a valorização do real frente ao dólar, que já alcança 15,64% no ano, tem trazido o IPCA para níveis mais baixos. A moeda mais forte influenciou os preços dos alimentos ¿ que caíram 0,77% ¿ dos artigos de limpeza (-0,02%) e do grupo TV e som (-0,34%).

Outro sinal do arrefecimento da alta de preços aparece no núcleo da inflação. Na média, o índice do núcleo que mede o movimento dos itens do varejo caiu de 0,41% para 0,35%.

¿ Com esse número, que mostra uma inflação em um ano de 4,6%, bem abaixo da meta, seria possível baixar os juros (taxa básica Selic, hoje em 19,75% ao ano) na próxima reunião do Copom este mês ¿ disse o economista da Fecomércio-RJ João Carlos Gomes.

Para agosto, há poucas pressões de tarifas públicas. Segundo Eulina, do IBGE, há um resíduo do aumento da telefonia nas ligações de fixo para celular e altas de água e esgoto (20%) e de ônibus urbano (8%) em Belém. Mas essa capital pesa apenas 6% no índice. Por causa das poucas altas previstas, Gomes está esperando uma inflação entre 0,2% e 0,3% em agosto. Para o ano, a taxa projetada pelo economista da Fecomércio-RJ é de 5,4%.

No Ipea, as revisões das expectativas de inflação estão em curso. Maria Andréia diz que a previsão de 6,3% de IPCA no ano vai baixar.