Título: O fundos, o Refer
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 09/08/2005, O Globo, p. 2

Esta semana, a CPI dos Correios começa a examinar as aplicações financeiras dos fundos de pensão e espera encontrar ouro em pó: indícios ou provas de que delas saiu dinheiro para abastecer o valerioduto. O ex-deputado Jorge Moura, que entre julho de 2003 e junho de 2004 presidiu o Refer, fundo de pensão dos servidores ferroviários, relata as peripécias que enfrentou, até ser demitido, para evitar operações que teriam sido danosas ao fundo e proveitosas para o grupo do deputado petista Carlos Santana.

¿ Durante 11 meses travei uma queda-de-braço com o ¿sindicalismo de negócios¿ representado pelo deputado Carlos Santana. Caí, mas consegui impedir as negociatas ¿ diz Jorge Moura.

A maior delas, a terceirização da carteira de títulos NTN-C, de mais de R$1,4 bilhão, pela entrega de sua administração a bancos de segunda linha como o BMG, o Rural, o Santos, o Pactual e outros.

Jorge Moura, que já foi deputado pelo antigo MDB, funcionário de carreira da RFSSA, acabou convidado para presidir o Refer, no início do governo Lula, como terceira solução à disputa pelo cargo entre Marcelo Sereno e Carlos Santana. Santana queria nomear sua mulher, Tania Regina, que acabou sendo indicada diretora de seguridade, e por decorrência, membro do conselho deliberativo. Uma comadre de Santana, Sonia Botelho , também ganhou assento no conselho. Uma composição entre o grupo peemedebista de Garotinho e o PT levou a indicação de Nilton Vassimon para a diretoria administrativa. O PCdoB indicou Adauto Carmona para a diretoria financeira mas ele trombaria com o grupo de Santana em pouco tempo e cairia. Quando isso aconteceu, em fevereiro de 2004, o grupo de Santana, com maioria no conselho, indicou Eduardo Teles para a diretoria financeira. Sua primeira iniciativa foi propor a terceirização da carteira de títulos, prontamente rejeitada por Jorge Moura. Mas seria derrotado no comitê de investimentos, onde foi o único a votar contra. Ameaçando denunciar, levou a proposta ao conselho deliberativo, que a recusou e acabou pedindo a demissão de Eduardo Teles. Um auditor da RFSSA no Paraná, Roberto Souza, foi indicado para o lugar mas Santana, segundo Jorge Moura, ¿mexeu os cordéis para que a empresa empregadora não o liberasse¿. Santana consegue então a nomeação de Carlos Alberto Pinto. Isolado, Moura é destituído pelo conselho deliberativo. Para seu lugar, foi indicado José Luiz Lopes Teixeira Filho, egresso do governo passado. Finalmente, o grupo de Carlos Santana era dono na situação no Refer para realizar as aplicações que os bancos citados viviam cobrando, bem como a terceirização da carteira de títulos. Mas a Secretaria do Tesouro (que tem 92% do fundo) resolve intervir no Refer, afasta a diretoria e indica dois auditores que estão lá até hoje.

Jorge Gama está disposto a mostrar documentos provando as tentativas de desviar os recursos para bancos escolhidos a dedo. Ainda que não se tenha concretizado, o caso do Refer ilustra bem o aparelhamento dos fundos pela ala sindicalista do PT. Santana, segundo Moura, controla também o Serviço Social das Estradas de Ferro, lá tendo empregado mais de 200 pessoas. Calcula que a diretoria torrou em aplicações duvidosas cerca de 80% dos R$45 milhões em títulos NTN.