Título: Diferença entre contrato e registro no TSE põe Bittar sob suspeita de caixa 2
Autor: Gerson Camarotti e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 09/08/2005, O País, p. 4

Dúvida sobre campanha à Prefeitura do Rio foi levantada pela CPI dos Correios

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Um contrato de prestação de serviços para a campanha à Prefeitura do Rio de Janeiro do deputado Jorge Bittar (PT-RJ), em 2004, registrou o compromisso de pagamento de R$3,8 milhões para a agência de publicidade Casablanca. Mas o valor pago oficialmente pela campanha de Bittar e registrado no Tribunal Superior Eleitoral é de R$800 mil.

A suspeita de que a campanha de Bittar recebeu caixa dois foi levantada pela CPI dos Correios, na semana passada, depois que o empresário Marcos Valério entregou à Procuradoria da República uma lista em que o ex-presidente da Casa da Moeda, o petista Manoel Severino, recebeu R$2,7 milhões de suas agências de publicidade. Em nota, Manoel Severino negou os saques da conta de Valério, mas afastou-se da Casa da Moeda.

¿Como o serviço foi menor, a remuneração diminuiu¿

No contrato a que o GLOBO teve acesso, o ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares aparece como avalista. Em nome de Bittar, assina a tesoureira de sua campanha, Fernanda Carísio. O contrato foi assinado no dia 13 de setembro de 2004.

Pelo contrato, a campanha de Bittar assumiu o pagamento de R$3,8 milhões divididos em três parcelas: a primeira de R$1 milhão, em 14 de setembro; a segunda de R$1 milhão, com vencimento em 17 de setembro, e a terceira de R$1,8 milhão com pagamento previsto para o dia 24 de setembro. A Casablanca ficaria encarregada pela produção dos programas de televisão de Bittar, dos comerciais de 30 segundos, dos cenários e da edição dos programas. A Casablanca trabalhou para o publicitário Nizan Guanaes, responsável pela campanha de Bittar.

Procurado pelo GLOBO, Bittar negou a existência de caixa dois em sua campanha. Ele argumentou que só pagou R$800 mil à Casablanca, como declarado ao TSE, porque a campanha enfrentou problemas financeiros e os custos dos programas de televisão foram refeitos.

¿ O contrato só foi cumprido em parte. O gasto total foi reduzido de forma significativa. Como o serviço foi menor, a remuneração para a Casablanca também diminuiu ¿ explicou Jorge Bittar.

Ele disse ainda que Delúbio é que insistiu em fazer uma campanha mais rica para a Prefeitura do Rio, inclusive com a contratação dos serviços de Nizan Guanaes, e que o gasto total de sua campanha chegou a R$4,1 milhões, sendo que a receita atingiu R$2,28 milhões. A campanha de Bittar terminou com uma dívida de R$1,82 milhões.

¿ Cobrei de Delúbio a dívida e o diretório nacional assumiu o pagamento dos compromissos da minha campanha ¿ disse Bittar.

Ele rebateu ainda as suspeitas levantadas ontem pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que houve caixa dois em sua campanha: diz que, por ser do PT e integrante da CPI dos Correios, Jefferson quer desacreditá-lo.

¿ Essa é mais uma jogada de Roberto Jefferson. Está claro que ele está tentando me usar para atingir o PT. Não existe nada em minha campanha. Tudo foi registrado ¿ disse Bittar.

Jefferson esteve ontem em São Paulo, num debate promovido pela Associação Comercial de São Paulo, e disse que o deputado Jorge Bittar, embora tenha declarado apenas R$800 mil em sua última campanha eleitoral, gastou, na verdade, R$3,8 milhões só com propaganda na TV.