Título: RITMO DE EMPRÉSTIMOS PODE CAIR
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 09/08/2005, Economia, p. 21

Financeiras acreditam em desaceleração; comércio prevê expansão

RIO e SÃO PAULO. As previsões para o desempenho até o fim do ano do crédito, cujo forte crescimento serve de combustível para o aumento da atividade econômica no país desde o ano passado, são divergentes entre empresas e entidades do setor e especialistas. Alguns acreditam que ainda há potencial para expansão, enquanto outros já prevêem desaceleração nesta segunda metade do ano, principalmente no segmento do crédito pessoal. Os motivos seriam o elevado endividamento dos consumidores e os efeitos da crise política sobre as perspectivas econômicas.

O vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi), José Arthur Assunção, afirma que a demanda vai desacelerar no segundo semestre, porque grande número de aposentados e pensionistas já foi atendido. E, nas demais modalidades, diz, as incertezas com o quadro político tendem a fazer os consumidores adiarem as compras.

A consultoria Rosenberg & Associados estima que, depois de crescer 1,2 ponto percentual de janeiro a junho deste ano, passando do patamar de 26,4% para 27,6% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de das riquezas produzidas no país), as operações de crédito contratadas junto a bancos, financeiras e redes de varejo vão se expandir menos agora, com o estoque de créditos no país chegando em dezembro a 28,2% do PIB.

¿ A tendência é de certa acomodação, principalmente porque a euforia do crédito consignado já passou ¿ diz Fernando Fenólio, economista da consultoria.

Fábio Pina, assessor econômico da Fecomércio-SP, lembra que a desaceleração se dará também por um simples efeito estatístico.

¿ O crédito para pessoa física cresceu entre 15% e 20% no primeiro semestre. É difícil repetir isso agora, tendo uma base de comparação robusta, que foi o segundo semestre de 2004. E as expectativas sobre o ambiente econômico também mudaram, para pior ¿ observa Pina.

Leader Magazine terá financeira em parceira com o Bradesco

Luis Fernando Pessôa, diretor-superintendente do banco Arbi, diz que a perspectiva de queda nos juros básicos (a Selic, hoje em 19,75% ao ano) também pode levar ao adiamento na tomada de financiamentos:

¿ Até dezembro, devemos crescer a uma taxa três vezes menor.

Mas é justamente a expectativa de redução na Selic que garantirá ao crédito ao consumidor mais espaço nos próximos meses, na visão do economista João Gomes, do Instituto Fecomércio. Segundo ele, outro fator que contribui é o pagamento do décimo terceiro salário, que permitirá ao trabalhador quitar suas dívidas e se programar para assumir outras.

A Leader Magazine, por exemplo, lançará em setembro a opção de pagamento em 10 vezes, com juro a ser definido. Hoje a loja parcela em até cinco vezes sem juros. Além disso, a empresa fechou parceria com o Bradesco e, a exemplo de outras redes, terá em três meses uma financeira. Segundo Carlos Alberto Machado, diretor da Leader, o excesso de crédito não causou alta na inadimplência:

¿ Nossa taxa de inadimplência caiu: em julho de 2004, era de 2,8%; em julho deste ano, 1,5%. As pessoas precisam de crédito para consumir.

A aposentada Marilene Pereira só opta pelo parcelamento quando não há juros. Foi assim que ela comprou um videocassete e um celular a prazo ¿ que representarão um gasto mensal de cerca de R$50 até dezembro:

¿ Sou consciente. O parcelamento me permite fazer minhas compras, mas não saio assumindo dívidas ¿ diz Marilene, que há dois anos, comprou a prazo geladeira, fogão, máquina de lavar e sofá.

Gilberto Catran, diretor da Associação de Lojistas de Shopping Centers do Rio (Aloserj), afirma que o aumento do crédito ao consumidor fez as vendas de julho subirem 3% frente a julho do ano passado.

Depois de registrar volume de empréstimos de R$2 bilhões no primeiro semestre, 50% acima do mesmo período de 2004, a financeira Losango, do grupo HSBC, mantém a meta de expansão, no segundo semestre, de 30% sobre o mesmo período de 2004. Segundo o diretor Comercial da empresa, Rodrigo Caramez, no primeiro semestre, o desempenho foi garantido pelo Crédito Direto ao Consumidor e pelos empréstimos pessoais.