Título: CRÉDITO FARTO + JURO ALTO= LUCRO
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 09/08/2005, Economia, p. 21

Ganho do Bradesco no 1º semestre chegou a R$2,6 bi, o maior da história do setor

Beneficiado pelo crescimento do crédito e a manutenção de altas taxas de juros, o Bradesco obteve um lucro líquido de R$2,621 bilhões no primeiro semestre deste ano, o que representou aumento de 109,7% na comparação com junho de 2004. Foi o melhor resultado semestral de um banco no país e bateu com sobras o número apresentado pelo rival Itaú, de R$2,475 bilhões.

Só entre março e junho deste ano, o Bradesco ganhou R$1,416 bilhão, praticamente igual ao lucro de uma companhia como a Gerdau em todo o semestre (R$1,44 bilhão). Como reflexo, as ações PN do maior banco privado do país subiram ontem 2,84% na Bovespa, contra uma alta geral do índice de 0,73%.

¿ É um resultado histórico no banco, talvez até histórico no sistema financeiro ¿ comemorou o presidente do Bradesco, Marcio Cypriano.

Somados, Bradesco e Itaú lucraram R$5,096 bilhões no semestre (aumento de 65,72%), mais do que o ganho conjunto de Gerdau, Telefônica, Cemig, Aracruz e Braskem (R$4,966 bilhões) ¿ que até agora apresentaram os melhores resultados entre as empresas não-financeiras. Na quinta-feira, sai o balanço do Unibanco, e a previsão dos analistas é de um lucro entre R$830 milhões e R$850 milhões.

Sem considerar avais e fianças, a carteira de crédito do Bradesco somou R$69,787 bilhões ao final de junho, com variação de 19,5% nos últimos 12 meses e de 11,1% em relação a dezembro passado. O volume de crédito para pessoa física cresceu 50,6% no período, com destaque para as operações de crédito pessoal e financiamento de veículos ¿ ¿cujos spreads são maiores¿, diz o próprio banco em seu balanço. A receita final com crédito e arrendamento mercantil alcançou R$7,364 bilhões, mais 6,8% no semestre.

Animado com esses números, o Bradesco melhorou sua previsão para o aumento da carteira total de crédito no ano, de uma faixa entre 20% e 22% para até 25%. As operações voltadas para pessoas físicas devem avançar 55%. Para empresas, a estimativa é de uma alta de 10%.

O avanço do Bradesco sobre o mercado tem como base uma política de parcerias com grandes redes de varejo, sendo que a mais próspera delas parece ser com as Casas Bahia. A operação tinha ao fim do primeiro trimestre cerca de R$44 milhões em financiamentos. Passados só três meses, o valor saltou para R$707 milhões.

¿ A expectativa inicial era terminar o ano com R$1 bilhão. Isso já ficou para trás ¿ disse Cypriano, sem citar novas estimativas.

Nem mesmo a crise política parece preocupar o executivo. Segundo ele, a economia tem sólidos fundamentos e não corre risco de esfriar.

¿ A área econômica pode contaminar a política do país. Ela está acima de tudo que está acontecendo na área política ¿ disse Cypriano, que integrou comitiva de empresários que esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, na semana passada.

Reforçando seus argumentos, ele citou pesquisas internas feitas pelo banco.

¿ Nossas pesquisas mostram que 89% das empresas mantêm as expectativas de investimento ¿ disse o executivo.

O aumento do volume de operações fez a receita com serviços e tarifas apresentar crescimento de 27% no semestre, chegando a R$3,421 bilhões. Já o resultado com a venda e compra de títulos e valores mobiliários apresentou queda de 7%, basicamente influenciada pela desvalorização do dólar no período (que indexa 12,3% da carteira). Em compensação, a manutenção de juros elevados evitou um recuo maior: a Selic média passou de 7,6%, em 2004, para 8,9% este ano.

Cypriano afirmou que está ¿firmemente interessado¿ no corte de juros, e aposta em queda da Selic em até 0,5 ponto percentual já na reunião deste mês do Comitê de Política Monetária do Banco Central:

¿ Os bancos vão ganhar com o aumento de volume de operações e com a redução da inadimplência.