Título: BANDO CAVA TÚNEL E ROUBA R$156 MILHÕES DO BC
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 09/08/2005, O País, p. 12

FORTALEZA. Numa ação cinematográfica, bandidos ainda não identificados fizeram no fim de semana o maior assalto a banco no Brasil. Roubaram R$156 milhões da caixa-forte da sede do Banco Central em Fortaleza utilizando um túnel de 80 metros de extensão e 70 centímetros de largura. O assalto só foi descoberto ontem, por volta das 8h, quando funcionários abriram a sala do cofre e encontraram um buraco circular e vestígios deixados pelos bandidos. Os sensores de movimento e as câmeras de vigilância não funcionaram. O montante roubado pesava em torno de 3.500 quilos.

Revestido de madeira e lona plástica, com iluminação elétrica e ventiladores, o túnel é uma obra de engenharia bem construída, ligando o BC a uma casa localizada a um quarteirão de distância. Quatro contêineres com cédulas de R$50 foram totalmente esvaziados e um quinto apenas parcialmente. Os ladrões desprezaram as notas novas e seriadas para evitar o rastreamento.

Segundo o BC, as notas tinham sido recolhidas da rede bancária para passar por uma análise do estado de conservação. Só depois é que o BC decidiria se elas voltariam aos bancos ou seriam incineradas. Por isso, o banco não tem o registro dos números das cédulas.

A ação foi planejada há pelo menos três meses, quando os bandidos alugaram a casa de número 1.071 na Rua 25 de Março. Nesse local, montaram uma empresa de fachada, a Grama Sintética. Num quarto localizado no fundo, que faz divisa com um anexo em construção da Bolsa de Valores Regional, abriram o buraco de entrada do túnel com aproximadamente um metro quadrado. O telefone da Grama Sintética está registrado em nome de Paulo Sérgio de Souza.

O túnel foi construído em linha reta passando por debaixo do terreno em obras da Bolsa de Valores e da Avenida Dom Manuel, saindo exatamente sob a caixa-forte que ocupa uma área de 500 metros quadrados, segundo funcionários do BC.

No fim da tarde a PF recolheu o lixo deixado dentro do cofre do BC: garrafas de sucos, energéticos, roupas, e um alicate de pressão que provavelmente foi usado para perfurar o piso da caixa-forte, que tem 1,10 metro de espessura, feito de ferro e revestido de concreto. No quintal da casa alugada, os bandidos deixaram jogados materiais usados na escavação: calça moletom, joelheiras e luvas para protegerem-se enquanto se arrastavam pelo túnel.

Na casa, foram achados comida, pá e maçarico

Um ar-condicionado de 18 mil BTUs foi usado para jogar ar fresco para o interior do túnel através de uma mangueira. Na casa foi encontrada uma grande quantidade de alimentos, principalmente enlatados, roupas e materiais como pá, enxada, picareta, maçarico, rolos de fios e rolos de arame.

A PF passou o dia dentro do BC, que teve expediente normal. Três delegados e outros 20 policiais federais estão trabalhando na investigação com o suporte de policiais civis e militares. A investigação está sob sigilo. No começo da tarde desembarcaram em Fortaleza, vindos de Brasília, o chefe de departamento de material e o chefe de segurança do BC.

Os vizinhos nunca desconfiaram de nada. Os detalhes foram cuidadosamente pensados. Reformaram e pintaram a fachada de verde e divulgaram que estavam abrindo uma empresa de paisagismo. Até o carro usado, uma van branca de placa HOY 0734, tinha a logomarca da empresa Grama.

O recepcionista da pousada do lado da empresa disse que havia pelo menos oito pessoas circulando pelo local. Mas apenas Paulo, que se identificou como natural de Niterói, no Rio de Janeiro, ficava mais presente e era bastante comunicativo. Segundo os vizinhos, ele é moreno, tem entre 30 e 35 anos, e 1,80 m. Paulo chegou a usar dois estacionamentos em frente à empresa Grama para guardar a van. Num deles deixou um débito de R$40. A dona de uma lanchonete que fica a poucos metros da empresa disse que Paulo e outro rapaz de cor branca almoçaram lá na última quinta-feira.

A Servis Segurança, empresa que faz a vigilância armada do Banco Central, informou ontem que a sua responsabilidade se restringe à área externa e ao controle de entrada e saída de pessoas. A segurança interna da caixa-forte, segundo a empresa, é de responsabilidade exclusiva do próprio Banco Central.