Título: MOEDA REDUZ CAPTAÇÕES EXTERNAS
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 11/08/2005, Economia, p. 27

Empresas emitem no mercado interno para fugir do risco cambial

O dólar baixo está desestimulando as empresas a captarem recursos no exterior e levando ao aumento das emissões internas. Isso porque, segundo especialistas, quanto menor a cotação maior o risco de a moeda subir frente ao real, o que encareceria o pagamento dos compromissos. Como as companhias que tomam dinheiro no exterior se protegem negociando esses títulos no mercado futuro, fazendo operações de troca do indexador para Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, que segue a variação da Taxa Selic, hoje em 19,75% ao ano), esse risco torna a operação cara. Ricardo Leoni, do Banco Santander, afirma que este é um dos principais motivos da queda no volume de emissões externas.

- Se o dólar chegar a R$2,60 até o fim do ano, terá uma alta de 14%. Isto encarece muito o hedge (a operação de proteção) - diz o vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), Luiz Fernando Resende.

Ao mesmo tempo, captar recursos no mercado interno, via debêntures, notas promissórias ou fundos de investimento em direitos creditórios, está mais vantajoso. Os prazos estão mais longos - a média hoje é de 5,8 anos, contra 2,9 anos em 2003, segundo a Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) - e o mercado estima que a Selic, que em geral indexa as debêntures com vencimento em até sete anos, caia a partir deste mês ou de setembro. A taxa paga por essas debêntures fica entre 100% e 108,5% do CDI, segundo o prazo e a avaliação de risco de crédito da empresa.

- Além de ser caro, o setor externo é restrito. Empresas com receitas do exterior, como as exportadoras, por exemplo, têm participação mais forte - explica o superintendente-geral da Andima, Paulo Eduardo de Souza Sampaio.

No primeiro semestre, a maioria dos emissores de títulos no exterior tinha nível de crédito mais alto, como Bradesco, Unibanco, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Braskem (petroquímica). Estas empresas conseguiram até emitir bônus perpétuos, ou seja, que nunca vencem. Apenas o rendimento é pago periodicamente.

- Muitas companhias que conseguem boas condições para emissões domésticas pagariam mais caro no exterior - diz Sandra Utsumi, economista-chefe do BES Investimento, que não vê com bons olhos a queda nas captações externas. - É bom para o balanço de pagamentos do país, mas também mostra reticência do setor produtivo para investir na capacidade de produção.

inclui quadro: os números do setor / os setores que mais captaram no mercado interno / as captações no mercado doméstico