Título: Natal na carona do dólar
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 11/08/2005, Economia, p. 27

Varejo negocia importação de produtos que devem ficar de 10% a 20% mais baratos

A baixa cotação do dólar - que fechou ontem a R$2,28 - vai trazer uma cesta de Natal de 10% a 20% mais barata do que a que a vendida nas festas do fim do ano passado. Para se ter idéia, em 2004, os preços do bacalhau variaram, em média, de R$13 (tipo Saithe) a R$45 (tipo Porto). Essa onda de descontos chegará ainda a vinhos, frutas secas (como castanhas e nozes) e azeites. É que começam a agora as negociações do varejo para a importação desses artigos, que se beneficiam com o real mais forte.

No supermercado Zona Sul, os preços podem ficar até 20% menores no Natal este ano, em comparação com o de 2004 - se as condições de câmbio se mantiverem nesse patamar, frisa Jayme Xavier, diretor da rede.

- A expectativa, se o cenário continuar o mesmo, é aumentar as vendas de vinho em cerca de 50%, de azeite em 30% e de bacalhau em 20% - diz o diretor da rede, que já vende bacalhau do porto desfiado ou em posta por R$49,90.

Segundo Paulino Costinha, diretor do Mundial, o câmbio favorável também ganha força diante das negociações da empresa com fornecedores - feitas todas à vista, e não a prazo:

- Se o dólar se mantiver nesse nível, as vantagens para o consumidor podem representar mais do que uma redução de 10% nos preços em comparação com o mesmo período de 2004.

Costinha lembra que uma das apostas para o Natal é a linha de vinhos importados - que, aliás, até domingo, está com preços mais em conta. Na lista, há o vinho português Porca de Murça, a R$14,90, e o chileno Santa Carolina a R$11,90.

Para o Natal, os vinhos chilenos e argentinos podem apresentar preços até 15% mais baixos nas prateleiras do Princesa. Já as bebidas vindas da Europa não vão ter praticamente redução nos preços.

- Afinal, é o dólar que puxa essa queda, e não o euro. Além disso, a entrada de novos rótulos traz preços menores ao consumidor. Prova disso é que de junho a agosto deste ano registramos aumento de 40% a 50% nas vendas das bebidas em comparação ao mesmo período do ano passado - afirma João Márcio Castro, gerente de Compras do Princesa.

Com o estímulo do ganho do real frente ao dólar de 14,23% no ano (de 3 de janeiro a 10 de agosto), o Princesa venderá, pela primeira vez, o bacalhau porto. Com isso, a empresa espera aumentar de 30% a 40% o volume de vendas do produto.

- Trazer esse novo bacalhau foi uma estratégia para atrair mais cliente para a empresa. E isso, naturalmente, tornou-se mais viável graças ao câmbio - diz Castro.

O economista João Gomes, do Instituto Fecomércio-RJ, lembra que a variação média do dólar, em dezembro do ano passado, era de R$2,72. Em agosto, essa média caiu para R$2,31:

- Tudo indica que os preços no Natal serão melhores para o consumidor. E isso, por conseqüência, terá impactos na inflação, ajudando o país a se situar dentro da meta.

Dólar não compensa a renda achatada

Mas a consumidora Solange Costa não está tão otimista assim. Ela, que compra para o Natal bacalhau, azeite e frutas, até espera queda de preços, mas não a ponto de os artigos serem mais baratos do que em 2004.

- Se o dólar está baixo e o produto é importado, o correto seria reduzir o preço. Mas não vemos exatamente isso nas prateleiras - diz ela.

Ronaldo Teixeira, diretor da Rede Economia, observa que a baixa do dólar não compensa o achatamento da renda do consumidor:

- O dólar ajuda, mas o consumidor está sem poder aquisitivo. Então, não é possível exagerar nas ofertas. Mas se o cenário permanecer estável, haverá redução de 10%, em relação ao Natal de 2004.

Legenda da foto: SOLANGE COSTA: "Se o dólar está baixo e o produto é importado, o correto seria reduzir o preço. Mas não vemos exatamente isso"