Título: Dólar afeta renda no campo e plantio da safra de soja cairá entre 7% e 20%
Autor: Cássia Almeida/Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 11/08/2005, Economia, p. 28

Setor sofreu com seca e recuo nos preços. Agroindústria ficou estagnada

O dólar baixo deu mais um golpe na rentabilidade dos agricultores brasileiros - já afetados pela seca e a queda nas cotações das principais commodities no exterior - e reforça a expectativa de uma redução na área plantada para a próxima safra. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou no início do mês que o plantio pode ocupar uma área entre 2% a 3% menor na safra 2005/2006. No caso da soja, em que os produtores amargaram perdas maiores, os analistas esperam um recuo entre 7% e 20%.

Receita do complexo de soja pode recuar para US$9 bi

Se confirmada, será a primeira redução da área plantada de soja no Brasil em sete anos. Desde a safra 1998/1999, a área destinada à soja cresceu 78%, lembra Guilherme Soria Bastos Filho, da Agroconsult. O plantio ocorre no segundo semestre, sobretudo em outubro. Mas, este ano, pode atrasar. Muitos produtores estão retendo em estoque a safra passada para tentar preços melhores, na expectativa de uma alta nas cotações internacionais ou de uma melhora na taxa de câmbio. E eles dependem dessas vendas para investir na próxima safra.

- O problema é que há uma época ideal e se o plantio ocorrer muito tarde, a produtividade pode ficar comprometida - diz Bastos, que prevê uma redução de 7% na área de soja.

Semana passada, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, maior produtor mundial de soja, afirmou que estima uma redução de 20% na área plantada do grão em todo o Brasil.

Mais otimista, Anderson Galvão, da consultoria Céleres, prevê um ligeiro crescimento no plantio, de 1%, porque os agricultores investiram muito em máquinas e equipamentos nos últimos anos e vão buscar um retorno na produção.

Porém, Galvão destaca que a perda de renda do setor foi grande. Os agricultores foram pegos no contrapé do movimento do câmbio. Para a safra passada, compraram adubos e fertilizantes (com preços influenciados pelo câmbio) em outubro de 2004, quando o dólar médio foi de R$2,85, segundo o Banco Central. E venderam a produção este ano com o dólar entre R$2,30 e R$2,40.

Com a queda nas cotações do grão (o preço do farelo de soja recuou 19% no mercado internacional) e a quebra de safra, a receita do complexo de soja, que em 2004 rendeu US$9,8 bilhões ao país, este ano deve recuar para US$9 bilhões, estima Galvão.

Agroindústria cresceu só 0,3% no primeiro semestre

As perdas do campo já se refletem em outros setores. No primeiro semestre, a indústria vinculada à agricultura cresceu apenas 0,3%, segundo o IBGE, enquanto a indústria total aumentou a produção em 5%. Os produtos usados para agricultura sofreram queda de 23,1%, o grupo de adubos e fertilizantes, 14,3%, e o de máquinas e equipamentos, 36,3%. O resultado só não foi pior graças à pecuária. Os produtos industriais derivados da pecuária tiveram alta de 2,8% no semestre.

- As vendas para o exterior de carnes bovinas aumentaram 37,7% no ano e a receita subiu 40,6% - explica Fernando Abritta, do IBGE.

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Legenda da foto: A COLHEITA de soja nos estados do Sul do país foi afetada pela seca