Título: MINAS E ENERGIA JÁ ESPERA REAJUSTE DA GASOLINA
Autor: Ramona Ordoñez/Mônica Tavares/Paula Dias
Fonte: O Globo, 11/08/2005, Economia, p. 31

Para secretária de Petróleo e Gás, barril da 'commodity', que ontem atingiu US$ 65, não volta ao patamar de US$ 40

BRASÍLIA, RIO e NOVA YORK. Os especialistas do Ministério de Minas e Energia estão preocupados: não acreditam que o barril do petróleo volte à casa de US$40 e, por isso, já esperam aumento do preço dos combustíveis na bomba. Ontem a commodity bateu outro recorde, encostando nos US$65 em Nova York. A secretária de Petróleo e Gás da pasta, Maria das Graças Foster, disse ontem que apenas a data e o percentual de ajuste, que cabem à Petrobras decidir, ainda não podem ser estimados, uma vez que o novo patamar internacional do óleo não está claro.

- O crescimento nos últimos 15 dias tem sido uma rampa que aponta para o céu. É pouco provável imaginar a curto prazo este petróleo voltando para a casa dos US$40 (o barril) - disse a secretária, que participou de audiência pública na comissão de Relações Exteriores na Câmara.

Para Maria das Graças, é por isso que os preços dos combustíveis deverão subir:

- No momento certo, para garantir os negócios da Petrobras nos patamares que ela julga adequados, ela deverá fazer os reajustes. Mas se chegou o momento, isto depende da política comercial da Petrobras.

Em Nova York, o barril do petróleo subiu ontem 2,9%, para US$64,90, novo recorde, depois de ser negociado a US$65. Em Londres, o barril do tipo Brent teve alta de 3,2%, para US$63,99, tendo atingido a máxima de US$64,09 durante o pregão. Apesar de os estoques americanos de petróleo terem aumentado em 2,8 milhões de barris semana passada, os EUA ainda enfrentam o gargalo na capacidade das refinarias.

Para o governo brasileiro, o nível de US$64 preocupa, mas ainda não se configura como novo preço médio do barril.

- O que é relevante é que nós não temos uma definição de patamar. Há a preocupação de um aumento sem volta - disse Maria das Graças.

A afirmação da secretária que mais acompanha a evolução do mercado internacional do óleo reforça a idéia de que o governo e a estatal consideram inevitável um ajuste nos preços internos dos combustíveis. Antes dela, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, alertara sobre a necessidade de um ajuste caso o barril continue no nível atual.

No mercado, o entendimento é que o barril do petróleo atingiu um novo patamar, de US$55, no início de junho. A defasagem de preços dos combustíveis em relação ao mercado externo, segundo um técnico, pode ser de 15% ou 25%, dependendo do critério usado no cálculo. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estima 30%.

Para o presidente da Federação Nacional de Revendedores de Combustíveis (Fecombustíveis), Gil Siuffo, a Petrobras está correta.

- A Petrobras não está tendo prejuízos. O aumento não deve vir a ponto de prejudicar nossa política de inflação. No momento, o prudente é aguardar - disse Siuffo, acrescentando que, para aumentar o valor das ações da estatal, o mercado pressiona pelo reajuste .

Economistas temem prejuízo à meta de inflação

O especialista Adriano Pires Rodrigues lembra que a estatal, apesar das altas cotações do barril no exterior, tem-se beneficiado, de um lado, da desvalorização do dólar frente ao real, e de outro, do forte incremento da produção nacional de petróleo.

Por isso, o mercado estima que o lucro da Petrobras no segundo trimestre deve passar de R$6 bilhões, com o acumulado do primeiro semestre em torno de R$11 bilhões.

Para economistas, um reajuste nos preços dos combustíveis seria o único fator que poderia impedir o cumprimento da meta de inflação este ano, estabelecida pelo governo em 5,1%. Até julho, o índice usado, o IPCA, estava em 3,42%. Alex Agostini, da consultoria GRC Visão, acredita que se houver um reajuste, será no último bimestre do ano, para não comprometer a meta.

COLABOROU Paula Dias, do Globo Online, com agências internacionais

Legenda da foto: PLATAFORMA DA francesa Total, na Nigéria: apesar dos alertas do governo e da Petrobras, analistas não acreditam em reajuste a curto prazo