Título: BENTO XVI TENTA REAPROXIMAÇÃO COM PEQUIM
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Fonte: O Globo, 11/08/2005, O Mundo, p. 34 e35

Em atitude incomum, Papa recebeu 28 padres da China

PEQUIM. Discretamente, o Papa Bento XVI vem tentando melhorar o conturbado relacionamento entre o Vaticano e a China, segundo fontes ligadas à Igreja nos dois países. Sem qualquer registro na imprensa estatal chinesa, mas com ampla repercussão na mídia asiática, a agência de notícias católica AsiaNews informou que 28 padres da chamada Igreja Católica Patriótica da China - aprovada pelo governo de Pequim - foram recebidos pelo Papa no dia 3 de agosto.

O Vaticano chegou a confirmar o encontro, sem especificar se o grupo de padres era de fato ligado ao governo da China ou fazia parte da chamada Igreja Católica Clandestina - cujas missas são realizadas em segredo e cujos integrantes podem ser presos por autoridades chinesas por se recusarem a negar o Papa como autoridade máxima.

Segundo a AsiaNews, esta provavelmente foi a primeira vez que um papa deu boas-vindas a padres da China desde o rompimento das relações entre o Vaticano e Pequim, em 1951. A Santa Sé mantém relações com Taiwan, considerada pela China uma província rebelde.

Melhoria de relações traria benefícios aos dois lados

Em maio, o cardeal Pio Laghi disse ao "Corriere Della Sera" que a China era uma das prioridades de Bento XVI e que o Papa já pensava em visitar Pequim. Na época, o Pontífice afirmou que pensava "em nações com as quais a Santa Igreja ainda não tem relações diplomáticas", o que foi interpretado como uma alusão à China. O encontro deste mês teria ocorrido durante uma audiência geral. "Cumprimento com afeição especial o grupo da China", teria dito Bento XVI aos padres da Igreja Patriótica, que se levantaram, cantaram um hino e acenaram, de acordo com a agência.

Segundo fontes ligadas à organização católica Comunidade de São Egídio, o estreitamento de relações tem objetivos claros. Para a Igreja, seria tirar da ilegalidade cerca de seis milhões de católicos que não aceitam a submissão da Igreja ao governo de Pequim e, junto com os quatro milhões de católicos da Igreja Patriótica, formar um dos maiores rebanhos católicos da Ásia. Já o governo de Pequim devolveria ao Vaticano o poder de indicar bispos, hoje prerrogativa do movimento patriótico.

Para a China, conta o benefício de sair da pequena lista de nações sem relações com o Vaticano. E o país estaria negociando uma alteração nas relações entre a Igreja e Taiwan, de modo a legitimar o controle alegado por Pequim sobre a ilha rebelde. Há indicações que as relações podem melhorar. Em junho, o padre patriótico Xing Wenzhi foi indicado bispo auxiliar de Xangai com a anuência do Vaticano e do governo de Pequim.