Título: Marta acusa Alckmin de fazer blitzes com a PM para tumultuar o trânsito
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 28/10/2004, O país, p. 4

A prefeita de São Paulo e candidata à reeleição, Marta Suplicy (PT), insinuou ontem que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) estaria ordenando blitzes em lugares e horários impróprios, como perto dos túneis que ela inaugurou, para congestionar o trânsito e jogar os eleitores contra sua administração. Alckmin é o padrinho eleitoral do candidato José Serra (PSDB). Ela também acusou o governo do estado de manter nove mil pessoas em cargos de confiança e ser uma caixa-preta, ou seja, sem transparência de informações.

¿ Está complicada essa situação de todo dia fazer blitzes perto dos túneis para demonstrar, provavelmente, que os túneis não funcionam. Aí, meu Deus, é duro, viu?¿ disse, em resposta a um ouvinte da Rádio Eldorado.

Marta também reagiu às críticas de Serra, que afirmou, na mesma rádio, que o governo dela é uma caixa-preta.

¿ Caixa-preta é o governo do estado. Vai tentar obter uma informação, como temos tentado. Não se consegue de jeito nenhum ¿ disse.

Alckmin rebateu as críticas da prefeita e disse que as blitzes são feitas mediante estudos técnicos que apontam os lugares onde há maior número de assaltos na capital:

¿ Não tem nada a ver com eleição. A eleição acaba no domingo e o trabalho da polícia continua ¿ disse Alckmin.

Seu secretário de Governo, Arnaldo Madeira, disse que o estado tem 17.853 cargos de confiança, mas nenhum do governo atual, que tem um projeto para eliminá-los. Nas contas do tucano, a prefeitura tem 6.740 cargos de confiança (2.200 deles do governo Marta), para um total de 134.692 funcionários. Ou seja: 5% são cargos de confiança. No estado, são 650 mil funcionários, 2,75% de confiança.

Em entrevista a duas rádios, Marta disse pelo menos cinco vezes ontem que não é Deus e que não pode fazer milagres, embora afirme que cuidou da cidade melhor que qualquer outro governante.

¿ Não vai ser uma intervenção milagrosa (sobre as propostas para a saúde, se for reeleita), porque Deus eu não sou ¿ disse Marta, que reassumiu o cargo ontem.

Juiz manda retirar faixa da casa de vizinho de Marta

Irritada com o fato de ter 80% de aprovação popular e mesmo assim ficar atrás nas pesquisas de intenções de votos, Marta, magoada, fez vários desabafos:

¿ É muito difícil para mim, como prefeita. Fico às vezes triste quando ouço (negativas de votos). Entendo, mas fico com pena de a pessoa não ter a capacidade de pensar diferente.

No fim da entrevista, a prefeita estava mais tranqüila. Contou que não tem podido relaxar na campanha, mas lembrou que anteontem conseguiu ir ao cinema para assistir a ¿Kill Bill 2¿, de Quentin Tarantino.

¿ Eu adorei. Gostei muito mais do segundo do que do primeiro ¿ disse.

A tranqüilidade da prefeita também foi assegurada ontem por uma decisão do juiz eleitoral José Joaquim dos Santos. Ele determinou a imediata retirada de uma faixa, instalada desde o dia 23 pelo vizinho da prefeita, o advogado Geraldo Figueiredo Forbes. Segundo o juiz, o vizinho de Marta ¿exorbitou seu direito de expressão¿ ao acusar, na faixa, o PT de corrupção.

¿Nem vou ao ponto de examinar a expressão prepotência. Fixo o agravo moral, seja quanto ao partido, seja quanto à candidatura, na alegada prática de corrupção, acusação que se reveste de extrema gravidade¿, afirmou o juiz eleitoral.