Título: DUDA AVISOU AO GOVERNO QUE IA FALAR EM CAIXA 2
Autor: Regina Alvarez, Demétrio Weber e Adriana Vasconcel
Fonte: O Globo, 12/08/2005, O País, p. 8 e9

Oposição também foi informada na véspera, mas manteve silêncio para que o marqueteiro não desistisse do depoimento

BRASÍLIA. O marqueteiro Duda Mendonça comunicou ainda na quarta-feira para integrantes do governo e do comando petista sua decisão de revelar que recebeu do empresário Marcos Valério o pagamento da campanha do PT de 2002 através de caixa 2 por intermédio de uma conta aberta no exterior. O recado foi repassado ao presidente Lula, que foi informado da linha do depoimento que foi dado naquela noite à Polícia Federal de Salvador. A decisão de Duda de revelar o esquema de caixa 2 foi tomada na quarta-feira, depois que ele foi convencido pelo advogado Antônio Mariz de que esta era melhor saída jurídica.

O único fato que saiu do script foi o depoimento de Duda Mendonça à CPI, que não foi comunicado previamente. De última hora, Duda fez questão de acompanhar a sua sócia, Zilmar Fernandes à CPI. Mas já na quarta-feira vários integrantes do PT, inclusive o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), sabiam da linha principal da estratégia de defesa decidida por Duda. A oposição também foi avisada. Mas optou pelo silêncio para evitar que Duda desistisse de falar o que sabe.

Estratégia montada para evitar envolver Lula

Segundo amigos do marqueteiro, apesar de sua personalidade emotiva, Duda estava mais racional do que em outros momentos de tensão. Duda praticamente não chorou nos últimos dias, comparado ao recente episódio de sua prisão por estar participando de briga de galo. Antes de chegar a Brasília, ele chegou a avaliar que sua carreira de marqueteiro político poderia sofrer um abalo com suas revelações.

A estratégia de defesa de Duda foi cercada de cuidados para evitar envolver o presidente Lula e teve como objetivo desqualificar e desmentir o empresário mineiro Marcos Valério. Isso porque Duda afirmou que recebeu o dinheiro por abertura de uma conta no exterior.

Em seus depoimentos anteriores, Valério sempre negou qualquer operação financeira e repasse de recursos para fora do Brasil. Ao revelar este fato, Duda ficou livre das chantagens feitas por Valério. Também traçou um paralelo entre as biografias dos dois: quis deixar claro que sua atividade é o marketing político e não a de lobista.

Outro ponto da defesa de Duda foi um recado indireto a políticos. Segundo interlocutores, quando ele disse que em várias ocasiões recebeu pagamento em dinheiro, estaria indicando aí uma possibilidade de caixa 2.

Duda fez campanhas para todos os partidos

Duda já trabalhou para a campanha de políticos de todos os partidos e de todas as regiões do país. Para o PSDB, trabalhou com os ex-governadores Eduardo Azeredo (MG), Marcelo Alencar (RJ) e Dante de Oliveira (MT). Com o PMDB, Duda fez campanha para os senadores Ney Suassuna (PB) e José Maranhão (PB), então candidato à reeleição ao governo estadual, para a dupla Antônio Brito para o governo e Pedro Simon para o Senado, no Rio Grande do Sul, e para o governador Joaquim Roriz, no Distrito Federal. No PP, trabalhou com o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf e no PT, com vários políticos, inclusive o governador Jorge Viana (AC).