Título: No depoimento, publicitário tenta salvar a imagem de Lula
Autor: Regina Alvarez, Demétrio Weber e Adriana Vasconcel
Fonte: O Globo, 12/08/2005, O País, p. 8 e9

Duda Mendonça faz malabarismo para não comprometer presidente, mas confissão de que recebeu dinheiro do esquema Delúbio/Valério aproxima crise do Planalto

BRASÍLIA. O publicitário Duda Mendonça fez malabarismo para tentar não comprometer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas acabou aproximando o Planalto da crise política ao admitir, na CPI dos Correios, que recebeu, juntamente com a sócia Zilmar Fernandes da Silveira, R$15,5 milhões do esquema de Delúbio Soares/Marcos Valério. Ele disse acreditar que os recursos de caixa dois não pagaram as contas de Lula, mas que não pode assegurar isso.

Duda disse que os depósitos foram para quitar dívidas da campanha de 2002 e outros serviços contratados pelo PT em 2003, sendo a maior parte dos recursos remetida para uma conta no exterior. Pelas contas que apresentou à CPI, entre 2002 e 2004, os contratos fechados com o PT seriam de R$56 milhões.

O publicitário fez a campanha que levou Lula à vitória em 2002 e ganhou a conta da Secretaria de Comunicação (Secom), que atende à Presidência da República. Ele explicou na CPI que fez um pacote de R$25 milhões em 2002 para as campanhas de Lula, José Genoino, Aloizio Mercadante e Benedita da Silva. Os números apresentados pelo publicitário à CPI mostram que 46% de valor foram pagos pelo esquema Delúbio/Marcos Valério.

¿ Em 2002, terminou a campanha eleitoral e ficamos com um grande débito com o PT nacional ¿ disse Zilmar à CPI. ¿ Eu cobrava insistentemente o Delúbio. Num determinado momento, no fim do ano ou no início de 2003, o Delúbio disse que estava tentando resolver, que tinha um amigo que estava ajudando com alguns empréstimos.

Duda disse que, no fim de 2002, havia recebido R$13,5 milhões do PT, que entraram na contabilidade oficial, restando um débito de R$11,5 milhões, que foi pago ao longo de 2003 com os recursos repassados por Marcos Valério.

¿ Sabíamos que o dinheiro era de caixa dois, mas não tínhamos outra opção. Ou pegávamos ou não recebíamos ¿ disse Duda.

O publicitário tentou resguardar Lula, afirmando acreditar que a campanha presidencial foi paga com dinheiro oficial:

¿ Eu não posso garantir, mas acredito que a campanha do presidente Lula foi toda paga com recursos oficiais.

O publicitário prometeu enviar à senadora Heloisa Helena (PSOL-AL) os contratos das campanhas para esclarecer quanto cobrou por cada. Mas um comentário de Zilmar reforçou a convicção dos parlamentares de que o esquema de Delúbio/Valério pagou as despesas da campanha de Lula.

¿ O Delúbio sempre me dizia que dinheiro não tem carimbo ¿ disse Zilmar.

Segundo os números que Duda apresentou a CPI, restou uma dívida de R$18,5 milhões de 2002 e 2003. Do total, R$3 milhões foram pagos com recursos contabilizados pelo PT e R$15,5 milhões com recursos de caixa dois, sendo que R$3,6 milhões foram repassados por Delúbio e por emissários. O restante foi repassado pelas empresas de Valério.

Duda revelou também que, a pedido de Delúbio, não emitiu faturas desses pagamentos e, assim, os valores não entraram na contabilidade de suas empresas.

O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) apresentou à CPI a prestação de contas do partido. O PT declarou gastos de R$9 milhões com a campanha de Lula, R$1,9 milhão com a de Genoino e Mercadante e R$1,3 milhão com a de Benedita.