Título: Oposição já estuda pedido de impeachment
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 12/08/2005, O País, p. 11

Fernando Henrique Cardoso apóia posição cautelosa e pede sólida avaliação jurídica antes de qualquer medida

BRASÍLIA. O revelador depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios levou a oposição a começar a falar abertamente na possibilidade de impeachment do presidente Lula. O tom, no entanto, ainda é de cautela. O PFL e o PSDB se reuniram e iniciaram ampla consulta jurídica para identificar os crimes cometidos pelo PT na campanha eleitoral e medir o efeito desses atos sobre o mandato presidencial.

Essa conduta foi acertada ontem num almoço entre o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), o líder do partido, senador José Agripino Maia (RN), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Durante a conversa, Tasso, por sugestão de Agripino, telefonou para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que considerou a situação muito grave, acertou encontros com os senadores e endossou a orientação de primeiro ter uma sólida avaliação jurídica antes de tomar qualquer atitude contra Lula. A essa linha podem juntar-se parte do PDT e o PPS.

¿ Vamos agir com prudência, mas com inflexibilidade no rumo. É inevitável o desfecho, mas não podemos ter precipitação ¿ analisou Agripino.

O principal motivo para tantos cuidados é a avaliação de que a situação de Lula é diferente daquela que derrubou Fernando Collor em 1992. A oposição acredita que Lula ainda tem boa capacidade de mobilizar a opinião pública e teme que, ao pedir seu impeachment, termine por transformá-lo em vítima. Também há expectativa de alguma reação do presidente nas próximas horas, como um pronunciamento pela televisão, e cuidado com a repercussão dos fatos sobre a economia.

¿ Se eu fosse o presidente, faria alguma coisa ¿ disse Tasso, ponderando:

¿ Impeachment é coisa séria e não pode ser jogado assim. Há muito a mastigar antes disso.

Parte da oposição, acirra ataques ao presidente

Mas houve gestos que avançaram em relação à posição oficial dos partidos oposicionistas. O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), por exemplo, afirmou que o impeachment era inevitável a essa altura e passou bom tempo na sessão da CPI ao lado do filho, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Do lado tucano, o senador Álvaro Dias (PR) fez discurso no mesmo tom, no plenário.

¿ Estamos no limiar de uma crise política sem precedentes. É inevitável, a partir de hoje, discutirmos a palavra impeachment.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), decretou o fim do governo Lula e considerou que é impossível não tratar da discussão do impeachment a partir de agora.

¿ O governo acabou. Impeachment, para o PSDB, era quase um palavrão. Agora, só um brasileiro muito alienado diria que isso não existe.

Segundo o senador, está clara a prática de crimes como sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e abertura ilegal de contas externas.

ACM diz que prefere derrotar Lula nas urnas

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse que cada vez mais se confirma a participação do governo nas irregularidades apuradas pelas CPIs.

¿ O presidente está desgastado, a situação do governo piorou muito, mas não desejo o impeachment de Lula, quero derrotá-lo nas urnas em 2006 ¿ disse.

Na Câmara, também houve ataques a Lula. Em discurso, o líder da Minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), disse que o presidente traiu o país e perdeu as condições de governar:

¿ Acabou o governo Lula.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu a votação urgente de mudanças na lei eleitoral e partidária para evitar que as próximas eleições tenham as mesmas regras de financiamento. Renan evitou críticas ao presidente, mas admitiu que o impeachment pode ser um desfecho das investigações.

COLABORARAM Evandro Éboli e Isabel Braga