Título: CÁSSIA ELLER: MP PODE DENUNCIAR CASA DE SAÚDE
Autor: Elenilce Bottari
Fonte: O Globo, 27/10/2004, Rio, p. 17

Laudo da perícia médica afirma que clínica de Laranjeiras adotou procedimento equivocado ao atender a cantora

O Ministério Público poderá denunciar criminalmente a equipe médica da Casa de Saúde Santa Maria, em Laranjeiras, que atendeu a cantora Cássia Eller no dia de sua morte, em 29 de dezembro de 2001. Após analisar o laudo da perícia, o juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto, da 29ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio negou pedido de arquivamento do inquérito e encaminhou o processo à Procuradoria de Justiça do Rio.

O promotor Alexandre Themístocles, da 6ª Promotoria Criminal, decidirá nos próximos dias se denuncia os médicos por homicídio culposo. O laudo da perita médica do MP Tânia Donati Paes Rios e da perita farmacêutica Eliani Spinelli conclui que, havendo o relato de ingestão de álcool e provável ingestão de cocaína, a conduta terapêutica adotada em Cássia ¿foi equivocada, o que permitiu a evolução do quadro clínico para a situação de parada cardio-respiratória, que veio a evoluir para óbito¿.

A perícia foi feita com base nos depoimentos de peritos do Instituto Médico-Legal e de amigos e parentes de Cássia. Segundo o IML, o exame toxicológico foi negativo para presença de cocaína nas vísceras da cantora, mas o instituto não estava equipado naquele momento para aferir qualquer dose de cocaína no sangue. Tanto a família quanto a baterista Lan Lan, que acompanhava a cantora, afirmaram que Cássia havia ingerido álcool e que apresentava uma secreção branca nas narinas.

Para as peritas, o relato e os sintomas de agitação, desorientação e enjôo eram suficientes para que a clínica adotasse procedimentos de intoxicação por drogas e álcool. Segundo elas, em casos de pacientes com cocaetileno (mistura de álcool e cocaína) os medicamentos Plasil e o betabloqueador (usado em casos comuns de parada cardíaca e infarto) são contra-indicados. O Plasil, por aumentar a capacidade do organismo de absorver a droga, e o betabloqueador por liberar a cocaína nos receptores alfa.

De acordo com Tânia Donati, em casos de intoxicação por álcool/cocaína, ¿o tratamento tem como principal intervenção a sedação¿. No entanto, segundo depoimento de Lan Lan, o médico Marcos Vinícios de Oliveira negou o pedido da própria Cássia, que queria ser sedada. A própria lavagem gástrica, também usada nesses casos, só foi feita após a primeira parada cardíaca, que ocorreu uma hora depois da internação de Cássia e meia hora após da injeção de Plasil.

Advogado diz que clínica fez procedimento protocolar

O advogado Luiz Marcelo Lubanco, que defende a Casa de Saúde Santa Maria e os médicos, disse que deverá pedir a realização de perícia multidisciplinar para analisar o procedimento médico adotado pela clínica. Ao rebater o laudo da perícia do MP, o advogado afirmou que os médicos do hospital utilizaram procedimentos protocolares no caso, porque não havia certeza de que Cássia teria inalado cocaína e ingerido álcool. Luiz Marcelo, que também defende os médicos da clínica, afirmou que na época da morte de Cássia chegou a defender a realização de perícia na Unicamp devido à falta de recursos do Instituto Médico-Legal.

¿ Os médicos não podiam tratar Cássia com base apenas em hipóteses. Ela estava com enjôo e Plasil é um medicamento tão comum que é vendido até sem receita. Não é um remédio que afete a pressão ou o coração, portanto não poderia matá-la. Quando Cássia teve a parada cardíaca, foi usado procedimento protocolar mundial.

O advogado Marcos André Campuzano, que defende Maria Eugênia Martins, companheira de Cássia, afirmou que a família estuda uma ação contra a clínica.