Título: Mais versões sobre suposta dívida de Lula com PT
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Fonte: O Globo, 12/08/2005, O País, p. 14

Tucano pede mais rigor na apuração sobre as denúncias de corrupção: `As investigações precisam continuar¿

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), criticou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as diferentes versões apresentadas até agora para justificar o empréstimo de R$29.436,26 registrado na prestação de contas do PT em nome do presidente.

Perguntado se via um risco crescente de impeachment do presidente, o governador pediu o aprofundamento das apurações sobre as denúncias de corrupção.

¿ As investigações precisam continuar. O que é estranho é você ter quatro versões para o mesmo fato (empréstimo do PT a Lula). E nenhuma bate uma com a outra ¿ afirmou Alckmin, que negou estar em campanha.

¿ Quando vemos hoje tantas ofensas à ética e quando vemos a inoperância sendo encoberta por retórica oca e por discurso patético, mais que do que nunca, nós precisamos lembrar dos bons exemplos do trabalho do governador Mário Covas (morto em 2001) ¿ afirmou ao discursar na abertura de um evento em São Paulo sobre ética e a responsabilidade fiscal.

O evento foi organizado pela Fundação Mário Covas em parceria com a Unesp (Universidade do Estado de São Paulo).

¿O caminho é menos conversa e mais trabalho¿

Após a sua participação no seminário, quando perguntado se estava se referindo aos discursos de Lula, Alckmin respondeu:

¿ Na realidade, é muito discurso e uma inoperância muito grande. O caminho é menos conversa e mais trabalho.

O empresário Antonio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, também participou do evento e disse que o impeachment seria uma ¿alegria¿ para o presidente.

¿ Termina de repente uma coisa que está indo ruim. Mas, pessoalmente, quero que ele fique até o fim.

Ao chegar à Câmara dos Deputados para participar da reunião da bancada do PT ontem, o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, reafirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe disse que não tem dívida com o PT.

¿ No clima que nós estamos, qualquer fato que apareça é tentado dar a ele uma dimensão que possa aumentar a temperatura da turbulência. Mas, na minha opinião, essa coisa é muito frágil para se tentar qualquer coisa contra o presidente ¿ disse.

Na terça-feira, a CPI dos Correios recebeu do Banco do Brasil a confirmação de que foram feitos quatro depósitos no valor total de R$29.436,26 em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na conta número 13.000-1 do Partido dos Trabalhadores, que recebe recursos do Fundo Partidário.

Os depósitos seriam para o pagamento de dois empréstimos do PT concedido a Lula antes de sua chegada à Presidência da República. Os empréstimos concedidos a Lula com recursos do Fundo Partidário estão registrados na prestação de contas do PT de 2003.

Pagamento foi feito quando Lula já era presidente

O BB informou que os depósitos atribuídos a Lula foram feitos em 30 de dezembro de 2003, no valor de R$12 mil; em 29 de janeiro de 2004, no valor de R$6 mil; em 30 de janeiro de 2004, de mais R$6 mil e em 30 de março de 2004, no valor de R$5.436,26. O pagamento dos empréstimos, portanto, teria sido feito quando Lula já estava na Presidência.

O PT afirma que o então procurador de Lula, Paulo Okamoto, atual presidente do Sebrae, não teria reconhecido a dívida no momento da rescisão do contrato. Em dezembro de 2003, entretanto, Okamoto teria procurado o PT propondo quitar a dívida em quatro parcelas, o que foi feito.