Título: JUROS BANCÁRIOS SUBIRAM EM SETEMBRO
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Fonte: O Globo, 27/10/2004, Economia, p. 27

Taxa média ficou em 45,1% ao ano, segundo o BC. Empresas são as principais afetadas

BRASÍLIA e RIO. Os juros cobrados pelos bancos subiram de 43,9% em agosto para 45,1% ao ano em setembro, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Banco Central (BC). As empresas foram as mais afetadas: o custo médio passou de 28,8% ao ano, em agosto, para 30,4% em setembro, atingindo 31,1% ao ano na primeira metade de outubro. Já taxa do empréstimo para pessoa física ficou praticamente estável, subindo de 63,1% para 63,2% anuais entre agosto e setembro. Mas essa taxa já aumentou para 63,9% ao ano em outubro.

E a tendência é de mais aumentos após as elevações na taxa básica de juros (Selic), que passou de 16% para 16,25% ao ano em setembro e para 16,75% este mês, determinadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Nos primeiros 15 dias de outubro, os juros médios atingiram 45,9% ao ano.

A notícia é ruim especialmente para as pequenas e médias empresas, que dependem desse tipo de financiamento para bancar novos investimentos que acompanhem a trajetória de expansão da economia:

¿ As grandes empresas contam com o crédito do BNDES e podem captar recursos no mercado internacional. Para as pequenas empresas, a alta reduz ainda mais o já fechado acesso a financiamentos, que é hoje proibitivo ¿ avaliou Luciana de Sá, chefe da Assessoria de Pesquisas Econômicas da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Essa é uma realidade bem conhecida pelo microempresário José Carlos do Nascimento, dono de uma agência de turismo. Ontem, ele percorria os bancos do Centro do Rio em busca de crédito para arcar com gastos de renovação de equipamentos e publicidade:

¿ As vendas em dezembro são importantíssimas para o setor e estou buscando capital de giro para concorrer em boas condições do mercado. Mas as taxas atuais, de cerca de 4% ao mês em instituições como Bradesco e Banco do Brasil intimidam e acabam retardando esse investimento.

Para Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, associação que reúne os executivos de finanças, o alto custo do crédito pode significar um freio no crescimento econômico do país.

¿ Os números mostram que todos saem prejudicados: empresas, consumidores e o país. As taxas elevadíssimas vão diminuir as vendas ao consumidor e adiar a decisão de investimento das empresas ¿ disse Oliveira.

Cresce o volume de crédito com desconto em folha

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, explicou que, quando já se tem expectativa de alta da Selic pelo BC, sobem os juros futuros, que servem de fonte para captação de recursos para operações com taxas prefixadas:

¿ Assim, os juros sofrem um efeito menor após a decisão. Em setembro, o impacto maior veio do crédito concedido pelos bancos com repasse de recursos externos para pessoas jurídicas. Os bancos esperam uma desvalorização maior do real nos próximos meses e, assim, elevaram as taxas.

Entre agosto e setembro, a taxa do cheque especial ficou estável em 140,6% ao ano e os juros do crédito pessoal subiram de 73,8% para 73,9% ao ano. Em compensação, a taxa média para compra de veículos baixou de 36,3% para 35,7% ao ano.

Apesar da alta das taxas de juros, persiste o aumento do volume de empréstimos para empresas e pessoas físicas. O crédito com recursos livres (que exclui habitação, rural e microcrédito) concedido pelos bancos passou de R$258,4 bilhões em agosto para R$263,3 bilhões em setembro. O montante de empréstimos para pessoas físicas cresceu de R$104,1 bilhões para R$106,6 bilhões.

Segundo Altamir Lopes, um dos itens que mais cresceram foi o crédito com desconto na folha de pagamento, também de chamado de consignação, que passou de R$6,319 bilhões, em janeiro deste ano, para R$10,152 bilhões no mês passado.

¿ O importante é que a consignação representa 25,4% do crédito pessoal, contra uma participação de 20% no início do ano ¿ afirmou Lopes, salientando que os juros deste segmento são a metade dos 73,9% ao ano do crédito pessoal.

A inadimplência (empréstimos com mais de 15 dias de atraso no pagamento) subiu de 7,2% em agosto para 13,3% no mês passado. Entre as pessoas físicas, a elevação foi maior: de 12,8% para 13,3%. Segundo Altamir Lopes, uma das explicações pode estar na greve dos bancários, pois vários tipos de crédito só podem ser quitados nas agências. Assim, o economista do BC não acredita em tendência de aumento para a inadimplência.