Título: Anpocs: Rio sofre com má estrutura partidária
Autor: Arnaldo Bloch
Fonte: O Globo, 28/10/2004, O país, p. 9

O Rio de Janeiro tem uma estrutura partidária fraca e uma política muito calcada no personalismo, o que se reflete na qualidade das escolhas dos candidatos, segundo a pesquisadora carioca Maria do Socorro Braga, pós-doutoranda pela USP (Universidade de São Paulo). Ela vai apresentar hoje, no segundo dia do 28 Encontro Nacional das Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), em Caxambu (MG), ampla pesquisa que fez com pré-candidatos às eleições proporcionais em São Paulo este ano para avaliar os critérios de cada partido na escolha de seus representantes. Em entrevista, comparou esses critérios com os adotados no Rio.

¿ Os partidos de origem parlamentar, como PP, PFL e PL, são os mais centralizadores. Uma ou duas pessoas escolhem os candidatos seguindo uma ficha que os interessados preenchem. Já os de origem externa, como o PT, são mais descentralizados e participativos.

Pesquisadora vê partidos sucumbindo a personalismos

E o Rio? Por que critérios devem se pautar as representações partidárias da capital e do estado para chegar a um percentual, na capital, de 20% dos candidatos com ficha suja, segundo levantamento do GLOBO? Socorro levanta algumas hipóteses.

¿ O Rio merecia um estudo aprofundado. Algo está acontecendo à margem da lei. Em São Paulo, o quadro é diferente... É claro que tivemos o Maluf, só que era majoritário, e ele praticamente impôs duas candidaturas a um PP dividido.

Na raiz do problema, a pesquisadora vê um estrutura partidária fraca, que acaba sucumbindo aos surtos personalistas.

¿ Os partidos no Rio estão na mão de líderes não orgânicos, não ligados ao partido, e todos com grande projeção pessoal. Garotinho e Rosinha são exemplos emblemáticos. E Cesar Maia? Que identificação partidária tem? Vale-se de sua personalidade e de sua administração. E o PT? O PT do Rio não tem qualquer função, é uma máquina sem inserção na sociedade civil. Só o PDT foi forte, mas, ainda sim, com base num só homem e no culto à sua personalidade: Brizola.

Numa outra vertente, Socorro vê a contravenção e o crime organizado por demais misturados às instituições:

¿ O bicho, as drogas, o controle do tráfico em várias regiões da cidade... há uma configuração que, parece-me, tem forte impacto no sistema partidário local, muito menos organizado enquanto estrutura orgânica, máquina, do que em São Paulo, onde estas estruturas funcionam com um peso muito claro, um PT muito forte, um PSDB fortalecendo-se e reorganizando-se nas diferentes cidades, a presença na sociedade civil, cursos de formação política.