Título: Buratti manteve contato freqüente com Palocci
Autor: Alan Gripp/Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 12/08/2005, O País, p. 17

Telefone da casa do ministro é um dos cinco mais discados pelo advogado acusado de tentativa de extorsão

BRASÍLIA. Dados da quebra do sigilo telefônico do advogado Rogério Buratti, acusado de tentar extorquir R$6 milhões da Gtech para garantir a renovação do contrato da empresa com a Caixa Econômica Federal, revelam que ele mantinha contato freqüente com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A informação veio à tona dois dias após Buratti dizer que tinha apenas "encontros ocasionais" com o ministro desde 1994, quando deixou o cargo de secretário de Governo de Ribeirão Preto (SP), ocupado na gestão de Palocci.

Os dados integram um inquérito da Polícia Federal e foram obtidos pelo Ministério Público de São Paulo. Segundo o relatório enviado à CPI dos Bingos, o telefone da casa de Palocci está entre os cinco mais discados por Buratti. O período total das ligações não foi divulgado.

Há informações, por exemplo, sobre ligação feita em 7 de fevereiro de 2004. Buratti ligou de sua casa para a de Palocci. No dia 21 do mesmo mês, foram duas ligações, dessa vez de um dos celulares usados por Buratti. O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), admitiu a possibilidade de Palocci ser convocado para prestar esclarecimentos sobre os telefonemas.

- Quem faz ligações para a casa do ministro é porque é amigo, demonstra intimidade. Buratti envolveu o ministro - disse Efraim

- Esse tipo de relação pode ser indício de que Buratti trabalhou em prol da Gtech na renovação do contrato - disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Palocci negou publicamente contatos com advogado

Quando Buratti foi apontado como suposto operador da renovação do contrato da Gtech com a CEF, Palocci negou publicamente que tivesse mantido contato com ele. Procurada pelo GLOBO, a assessoria do ministro não retornou as ligações.

No rol das ligações figuram os telefones da casa do chefe de gabinete do ministro, Juscelino Antonio Dourado, e por Ralf Barquet Santos, assessor da presidência da Caixa, responsável pelo contrato que seria renovado, segundo apurou a CPI. Buratti ainda mantinha contato telefônico com a cafetina Jeane Mary Córner, que também organizaria festas com garotas de programa para publicitário Marcos Valério de Souza.

Documento desmente Waldomiro

Ontem, enquanto Waldomiro Diniz negava em seu depoimento à CPI que teria trabalhado para arrecadar ilegalmente recursos para campanhas, veio à tona um documento reforçando a tese contrária. Trata-se de uma transcrição feita pela Polícia Federal de um diálogo dele com o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em 20 de maio de 2002, no Aeroporto de Brasília. Eles conversam sobre as chances de Rosinha Matheus (PMDB) vencer as eleições de 2002 e sobre outras campanhas.

"Com certeza ela vai ganhar, tenho acompanhado. Já fiz contato não só no Rio, mas com outros governadores, eles estão nos apoiando e é coisa grande", disse Waldomiro. Em outro trecho, ele se mostra preocupado com a justificativa legal para o dinheiro: "Dinheiro não se esconde, precisamos disfarçar... isso a gente precisa lavar". Waldomiro negou os diálogos.

Ele também negou à CPI que tivesse cobrado propina de Cachoeira. Amparado por um hábeas-corpus que impedia de ser preso se fosse flagrado mentindo, disse que foi achacado por Cachoeira e que nunca pediu dinheiro para campanhas.

- Não pedi dinheiro, me foi oferecido - disse.

A resposta irritou os senadores, que momentos antes, tinham assistido à exibição do vídeo em que Waldomiro, então presidente da Loterj, aparece pedindo R$300 mil para as campanhas.

Legenda da foto: ROGÉRIO BURATTI: muitas ligações para a casa do ministro Palocci