Título: Oposição mantém cautela sobre impeachment
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Fonte: O Globo, 13/08/2005, O País, p. 9

Além de dúvidas jurídicas, tucanos e pefelistas acreditam que afastamento do presidente não teria apoio popular

BRASÍLIA. As crÍticas da oposição ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não alteram a disposição de tratar com prudência a possibilidade de um pedido de impeachment. Além da incerteza jurídica, os oposicionistas acreditam que o afastamento do presidente não teria apoio popular.

Além disso, depois da entrevista do ex-deputado Valdemar Costa Neto à revista "Época", afirmando que Lula sabia das negociações de financiamento eleitoral, os oposicionistas não têm mais dúvidas de que as denúncias atingem o vice-presidente, José Alencar. Na hipótese de afastamento de Lula e Alencar, o próximo na linha de sucessão seria o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).

- As denúncias de financiamento ilegal comprometem também o vice. O impeachment atingiria o vice. Na linha sucessória está quem a nação não deseja que assuma a presidência - afirmou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

Para a oposição, Severino tem hesitado diante dos processos de cassação de parlamentares. Outra preocupação é o fato de os líderes de pelo menos quatro partidos estarem envolvidos nas denúncias, como supostos beneficiários do mensalão.

- A Câmara é um poder comprometido. Essa situação é um empecilho a uma conclusão ortodoxa dos fatos. É preciso um amplo entendimento - avaliou o líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN).

- Não vamos ao impeachment como quem vai a uma sorveteria. Vamos examinar todas as implicações - disse Virgílio.

A oposição já traça cenários futuros, inclusive o do impeachment, pensando na transição. Foi esse o espírito do almoço ontem entre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Virgílio e Agripino Maia. Segundo os líderes, Renan quer manter diálogo com a oposição.

Já Severino minimizou a crise e a possibilidade do impeachment de Lula. Segundo ele, esse é um caminho prematuro.

Virgílio contou que conversou com o ex-presidente Fernando Henrique que, segundo ele, ficou preocupado com os últimos desdobramentos da crise.

- Ele está assombrado, mas nos recomendou cautela e pediu que as investigações ainda sejam consolidadas.