Título: MERCADANTE: 'EU NÃO ME RECONHEÇO NUM PARTIDO COM ESSE TIPO DE PRÁTICA'
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Fonte: O Globo, 13/08/2005, O País, p. 9

Senador propõe que PT afaste os dirigentes envolvidos no esquema

BRASÍLIA. Os líderes do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), mostraram-se ontem abatidos e desanimados com as revelações do publicitário Duda Mendonça de que recebeu recursos do empresário Marcos Valério em empresas abertas no exterior.

Mercadante disse que o PT está experimentando um sentimento de "traição e perplexidade" diante das revelações de Duda. O senador propôs que o PT afaste imediatamente os dirigentes envolvidos, o que foi impedido na semana passada por uma manobra orquestrada pelo ex-ministro José Dirceu. Perguntado se poderia deixar o partido, respondeu:

- Não me reconheço num partido com esse tipo de prática. Dei 20 anos de militância ao PT, se é para ser assim, temos que começar de novo.

Mercadante disse que esperava que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressasse à nação esse sentimento de indignação e perplexidade. Ele defendeu Lula, afirmando que ele não teve responsabilidade pelo fato de parte de sua campanha ter sido paga com dinheiro depositado no exterior:

- O sentimento de indignação e perplexidade é seguramente o sentimento de Lula, que deve dizer isso à nação e reagir com firmeza. Ele não tem responsabilidade nesses fatos e não pode pagar por ações de dirigentes que o traíram.

Chinaglia diz que revelações de Duda são tenebrosas

Chinaglia chamou de tenebrosas as revelações de Duda e disse que alguns dirigentes do PT "meteram o partido numa enrascada". Mas defendeu Lula, afirmando que a oposição teve a cautela de não levar a sério a proposta de impeachment.

- O que Duda disse é que parte das campanhas do PT foi paga daquela forma, que eu diria tenebrosa, com dinheiro no exterior sabe-se lá de onde. É inadmissível. Alguns dirigentes do PT, sabe-se lá quais, nos meteram numa enrascada.

Chinaglia e o líder do PT na Câmara, Fernando Ferro (PE), reagiram às críticas ao pronunciamento de Lula. Chinaglia disse que Lula usou um tom de presidente e não de alguém que pertence ao PT, e que não é papel do presidente atuar como "comentarista de crises".

- Ele fez um pronunciamento, um balanço do governo e não fugiu da crise. Deu um tom geral, não apenas de alguém do PT. Querem transformá-lo num comentarista de crise.

Ferro disse que Lula deu a senha para que o PT seja rigoroso. Segundo ele, o afastamento dos petistas será discutido na reunião da executiva na terça-feira. Para ele, o ex-ministro José Dirceu pode contribuir para um desfecho positivo da crise:

- Ele tem responsabilidades e foi afastado do governo por se encontrar motivos para isso.