Título: Valdemar: Lula sabia que PT deu dinheiro a PL
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Fonte: O Globo, 13/08/2005, O País, p. 13

Presidente do partido do vice José Alencar diz que acordo em 2002 foi feito com Dirceu e Delúbio por R$10 milhões

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que renunciou ao mandato de deputado no primeiro dia deste mês para escapar de um processo de cassação por ter recebido dinheiro do valerioduto, afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia de pelo menos um caso de negociação envolvendo dinheiro do caixa dois do PT em troca de apoio político. Em entrevista à revista "Época" que circula desde ontem, Valdemar relata como foram as conversas que resultaram na chapa Lula-José Alencar para disputar as eleições de 2002. Segundo ele, o acordo era de R$10 milhões mas o PL recebeu R$6,5 milhões do PT para apoiar a candidatura petista.

O acordo teria sido fechado em junho de 2002. Nele, José Dirceu, então presidente do PT, e Delúbio Soares, então tesoureiro do partido, se comprometeram a dar R$10 milhões ao PL pela aliança. "O Lula estava na sala ao lado. Ele sabia que estávamos negociando", assegura Valdemar à revista, acrescentando que o então candidato a candidato a vice-presidente José Alencar também tinha conhecimento das negociações. "Recebi dinheiro, sim, mas não os R$10,8 milhões que diz o Marcos Valério. Foram R$6,5 milhões do caixa 2 da campanha de Lula", conta o ex-deputado.

Acordo na casa de Paulo Rocha

De acordo com o relato de Valdemar a "Época", as negociações políticas deram lugar a conversas sobre repasse de dinheiro quando a Justiça aprovou a verticalização na eleição de 2002 (permitindo apenas as coligações regionais com aliados nacionais). Na iminência de não conseguir os 5% de votos necessários para reivindicar recursos do fundo partidário, o PL pôs na mesa o fato de que, com poucas chances de obter o percentual mínimo, o partido teria de buscar outras coligações, inviabilizando a aliança com o PT. "Falei para o Zé (Dirceu): 'Para isso, preciso de uma estrutura muito maior para segurar meu pessoal'. Ele falou: 'Mas quanto?'. Eu falei: 'R$15 milhões, R$20 milhões'."

Segundo o presidente do PL, nesse ponto a aliança quase gorou. Os dois partidos chegaram a fazer uma nota conjunta acabando com a possibilidade de coligação, quando José Alencar entrou no circuito. "O Zé Alencar disse para eu não assinar a nota. Daí a 15 minutos, ele ligou e disse que o Lula viria no dia seguinte a Brasília resolver o assunto". A conversa para acertar os valores finais do acordo foi realizada no apartamento do deputado petista Paulo Rocha.

"Estavam lá o Lula, o José Alencar, o Dirceu e o Delúbio. O Lula chegou para mim e disse: 'Quer dizer então que você é o nosso problema?'. (...) O Zé Dirceu não queria falar de dinheiro, queria negociar a participação no governo. (...) Depois o Lula até falou para o Zé Alencar: 'Vamos sair porque esta conversa é entre partidos, e não entre candidatos'. Daí o Delúbio chegou para mim e disse: 'Vamos conversar'. (...) O Lula e o Alencar ficaram na sala e fomos para o quarto eu, o Delúbio e o Dirceu", diz Valdemar.

Segundo ele, o pagamento dos R$6,5 milhões foi feito depois da eleição, em cheques da SMP&B para a Guaranhuns Empreendimentos. Os cheques, segundo Valdemar, eram depois trocados em dinheiro por emissários de Delúbio.

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Legenda da foto: VALDEMAR COSTA Neto: o ex-deputado disse à "Época" que Alencar também sabia das negociações