Título: BURATTI CONFIRMA LIGAÇÕES PARA PALOCCI EM 2004
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 13/08/2005, O País, p. 14

Ministro diz que contatos foram 'sociais e esporádicos' e que provavelmente os dois não se falaram

BRASÍLIA. Investigado pela CPI dos Bingos no Senado pela acusação de tentar extorquir R$6 milhões da empresa Gtech para garantir a renovação do contrato da firma com a Caixa Econômica Federal, o advogado Rogério Buratti confirmou ontem que fez ligações para a casa do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, em Brasília. Em entrevista ao GLOBO, ele negou que os dois tenham tratado da Gtech nestas conversas, mas admitiu que em pelo menos duas vezes pediu a ajuda do ministro para a empresa de Ribeirão Preto da qual foi vice-presidente, o Grupo Leão Leão.

Além de tentar marcar audiência, Buratti, que em 1993 e 1994 foi secretário de Governo na gestão de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto (SP), contou ter ligado para o ministro para pedir sua ajuda para retirar a Certidão Negativa de Débito da Leão Leão.

- Posso ter ligado (para Palocci) para tirar alguma dúvida de Ribeirão Preto ou pela minha empresa, a Leão Leão. Nunca escondi que ao representar a empresa fizesse ligações para marcar uma audiência, por exemplo. Em Ribeirão Preto, diversas empresas ligaram para ele - disse Buratti.

Os contatos telefônicos foram revelados na CPI dos Bingos, que recebeu o relatório da quebra de sigilo telefônico de Buratti da investigação em curso no Ministério Público de São Paulo. Entre janeiro e março de 2004, houve pelo menos três telefonemas do advogado para Palocci, apesar de ele ter dito na CPI que não tinha ligações pessoais com o ministro, e que apenas o via em "encontros ocasionais".

Palocci divulgou nota ontem que reafirma que seus contatos com Buratti nos últimos anos foram apenas "sociais e esporádicos". Segundo a nota, as ligações do advogado para o ministro foram "provavelmente tentativas de contatos que não prosperaram". Palocci diz ainda que acompanhará as investigações sobre as trocas de telefonemas de Buratti com assessores do ministério e que está à disposição para novos esclarecimentos.

O Ministério Público de São Paulo vai pedir à companhias telefônicas os extratos das ligações de Buratti de 2003, quando foi fechado o negócio entre a Gtech e a Caixa (em abril). O objetivo é investigar se houve tráfico de influência na renovação do contrato de R$650 milhões para o processamento de loterias. Buratti disse que ligou apenas duas ou três vezes para o ministro e que sua ex-mulher pode ter ligado para a mulher de Palocci.

- Não tenho porque esconder, as ligações estão registradas. Mas não quer dizer que tenha intimidade com o ministro.

O advogado também confirmou ter ligado para a cafetina Jeane Mary Córner, que ajudava a organizar festas com prostitutas para o empresário Marcos Valério de Souza. Buratti, no entanto, disse que a divulgação dos dados tem como objetivo constrangê-lo:

- Se você quer saber, liguei sim. E se quebrar o sigilo de outras pessoas vai ver que muita gente importante ligou. Se liguei, tinha razões. Só acho que o Ministério Público deveria dizer à CPI o que realmente é importante. Isso é um constrangimento deliberado.

Legenda da foto: BURATTI: "POSSO ter ligado para tirar uma dúvida ou pela minha empresa"