Título: FGV: nível de otimismo da indústria é comparável ao milagre e Cruzado
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 28/10/2004, Economia, p. 24

A sucessão de recordes contabilizados na última edição da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), não deixa dúvidas. A indústria brasileira atravessa um ciclo de expansão e otimismo comparável somente ao início do Real, ao Plano Cruzado e aos anos do milagre econômico. A proporção de empresários que considera positiva a situação atual de seus negócios (43%) e o nível da demanda (24%) é a mais alta desde abril de 1995. Desde outubro de 1986, a diferença entre as companhias que pretendem contratar (35%) e demitir (9%) não era tão grande. E o nível de utilização da capacidade instalada (86,1%) é o maior desde janeiro de 1977.

A FGV entrevistou 908 indústrias, que faturam por ano R$ 346,8 bilhões e empregam 924 mil pessoas, entre 27 de setembro e a última segunda-feira. Os questionários foram respondidos após a reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom), quando os juros básicos subiram 0,25 ponto percentual, mas antes do encontro da semana passada, que elevou a Selic de 16,25% para 16,75% ao ano. Ainda assim, o economista Aloísio Campelo Jr., coordenador da pesquisa, não crê que a austeridade monetária alteraria o ânimo dos empresários:

¿ Os empresários tinham conhecimento da primeira alta e esperavam uma nova elevação. Não acho que o meio ponto de outubro mudaria significativamente o resultado.

Entre os empresários, 38% planejam reajustar preços

O economista não hesita em batizar de ciclo de crescimento o vigor que a produção industrial passou a exibir a partir do segundo semestre de 2003. E chama a atenção para o fato de a média histórica de avaliação dos negócios ser negativa. Significa dizer que quando tantos empresários enxergam um ambiente favorável é sinal de que estão, realmente animados.

¿ Só 5% dizem que o nível de estoque é excessivo e 11% mencionam a escassez de matéria-prima como fator limitativo da produção ¿ completa.

Os níveis de uso da capacidade instalada tampouco deixam dúvidas sobre a boa fase. Na série sem ajuste sazonal, trata-se do maior desde janeiro de 1997. Na tabela ajustada, a indústria opera no maior ritmo desde abril de 1995: 85,2% contra 85,4% dez anos atrás. Todos os setores investigados (bens de consumo, de capital, material de construção e bens intermediários) estão num patamar superior à média histórica.

Em relação ao futuro, 38% dos empresários acreditam que a demanda vai aumentar (o saldo entre pessimistas e otimistas é de 16 pontos percentuais, nível comparável ao de 2000) e 35% planejam contratar nos próximos seis meses. A proporção dos que esperam melhora nos negócios nos seis meses à frente caiu de 54% em julho para 48% este mês, o que Campelo acredita que pode ser um primeiro sinal do arrefecimento do ritmo da indústria.

Também continua alta a proporção de empresários que pretendem subir preços (38%), embora seja este o menor percentual observado pela FGV este ano. Ontem, a Fipe informou que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) ficou em 0,53% na terceira prévia de outubro, contra 0,38% na pesquisa anterior. Foi a maior variação desde a segunda quadrissemana de setembro (0,56%).