Título: Fiocruz estima em 50 mil o número de trabalhadores expostos ao amianto
Autor: Cássia Almeida e Mônica Tavares
Fonte: O Globo, 28/10/2004, Economia, p. 27

O país tem cerca de 50 mil trabalhadores expostos ao amianto, em atividade ou que passaram por indústrias que usam a fibra, segundo estimativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Hermano Albuquerque de Castro, pneumologista, médico do trabalho e doutor em Saúde Pública pela Fiocruz, disse ontem que o número pode ser ainda maior se entrarem na conta os expostos indiretamente, como operários da construção:

¿ O trabalhador que corta uma telha de amianto está exposto. Não há possibilidade segura do uso do amianto, mesmo com a mais avançada tecnologia de controle dessa fibra ¿ diz o médico, responsável pelo ambulatório de Pneumologia Ocupacional da Fiocruz.

O ambulatório acompanha cerca de 300 trabalhadores, e 15% deles já adoeceram. Nos últimos cinco anos, morreram cinco vítimas do amianto.

Conar nega recurso de empresas sobre propaganda

Na terça-feira, o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) mandou suspender a campanha publicitária do Instituto Brasileiro de Crisotila, que reúne a indústria do setor, iniciada em 7 de outubro. A decisão atendeu a uma representação da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea). O instituto entrou com ação cautelar na Justiça paulista para manter a propaganda, mas a liminar foi negada ontem.

¿(...) `Os danos imediatos e irreparáveis da requerente e sua atividade legalmente autorizada¿, alegados na petição inicial, não podem ser superiores aos interesses do consumidor, dos trabalhadores e do meio ambiente, que o relator do processo administrativo pretende assegurar quando proferiu a decisão combatida¿, diz a juíza Ana Luiza Liarte, da 8 Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, ao negar o pedido de liminar.

Enquanto o debate se desenrola na Justiça e no Conar, o governo poderá decidir pelo banimento gradual do uso do amianto no país. Ontem, o ministro da Saúde, Humberto Costa, disse ter informações de que o tipo de amianto produzido no Brasil é indesejável. Mas afirmou que a indústria e os trabalhadores do setor terão de ser ouvidos, antes que o governo tome decisão a respeito:

¿ A princípio, todos os estudos indicam que o tipo de amianto produzido no país é um produto indesejável.

A assessora da Secretaria de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Marília Marreco, disse que o ministério é a favor do banimento do amianto. Mas frisou que é necessário fazer um cronograma para sua substituição. Na União Européia, o prazo para o banimento foi de cinco anos e, em 2005, o amianto não deverá mais ser usado.

¿ Somos a favor do banimento gradual do amianto no país ¿ afirmou ela.

A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, disse que os estudos sobre o tema ainda não terminaram no seu ministério. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, o Brasil exportou, de janeiro a setembro, cerca de US$ 22 milhões em produtos que vão desde amianto em fibras não trabalhadas até outras formas do mineral.

Indústria diz que há estudos favoráveis ao amianto

Marina de Aquino, presidente-executiva do Instituto Brasileiro de Crisotila, afirma que a entidade vai prosseguir com os recursos judiciais e que não há uma posição declarada do governo a favor do banimento total do amianto. Ela diz, inclusive, que o Ministério das Minas e Energia é parceiro do instituto e manda representantes para as reuniões.

¿ A entidade não representa apenas as empresas, os sindicatos dos trabalhadores também são associados. Queremos mostrar que é possível o uso controlado do amianto e há estudos que comprovam isso ¿ diz Marina.

O presidente da Abrea, Eliezer João de Souza, afirma que estão em andamento mais de 300 ações individuais na Justiça, com pedido de indenização por trabalhadores:

¿ Só quem já conviveu com uma pessoa doente sabe o que amianto é capaz de fazer. É terrível.