Título: Os palestinos o têm como um símbolo¿
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Fonte: O Globo, 28/10/2004, O mundo, p. 30

Para Salman Shoval, conselheiro de Ariel Sharon, a crise enfrentada pelo governo será resolvida em duas semanas. Ele classifica a retirada dos colonos judeus da Faixa de Gaza como uma ¿chance de ouro para a retomada da paz na região¿, mas reconhece que será um processo doloroso, pois gerações de famílias vivem há anos nos assentamentos.

Sharon vai resolver a crise formando uma nova coalizão de governo?

SALMAN SHOVAL: Hoje, ainda não vemos solução. A situação interna no Likud é das mais difíceis.

Sharon ficou mais forte ou mais fraco com a decisão do Parlamento?

SHOVAL: Eu diria que ficou mais forte para o país, mas enfraquecido no partido. Ele tem o apoio do Knesset (Parlamento de Israel) e do povo.

Haverá negociação com a ANP?

SHOVAL: Arafat é o maior obstáculo à paz. Os palestinos sabem o que ele representa mas o têm como um símbolo.

A retirada da Faixa de Gaza é uma estratégia do governo para consolidar a ocupação em parte da Cisjordânia?

SHOVAL: Achamos a saída de Gaza um passo importante para a paz. Quanto à Cisjordânia, o próprio governo americano reconhece que parte dela é importante para a segurança de Israel.

O senhor vê ameaça de uma guerra civil com a resistência dos colonos e de parte da população à retirada?

SHOVAL: Não. A resistência é enorme, mas o mais sério é que parte dos políticos do Likud considera a retirada um erro político, não exigindo nada em troca dos palestinos.

Qual é o significado da retirada para os judeus israelenses?

SHOVAL: É difícil retirar gerações de famílias que não foram para lá por iniciativa própria. Do ponto de vista político, é uma tentativa de levar adiante o processo de paz. Em relação à segurança, esperamos que contribua para o fim das ações terroristas. Se continuarem, lutaremos de novo em Gaza.

Há um plano de ação do governo para depois da retirada?

SHOVAL: Há negociações com União Européia e Banco Mundial para a construção de edifícios para abrigar a população palestina que vive em campos de refugiados.