Título: CPI VAI INVESTIGAR PAGAMENTOS
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 14/08/2005, O País, p. 3

Alvo serão empresas que repassaram dinheiro para agência de Marcos Valério

BRASÍLIA. Na tentativa de encontrar a origem de parte dos recursos distribuídos pelo empresário Marcos Valério a políticos aliados, a CPI dos Correios vai investigar os pagamentos às agências publicitárias dele feitos por empresas que têm interesses junto ao governo. Os integrantes da comissão já descobriram, por exemplo, que as companhias telefônicas Telemig Celular e Amazônia Celular, empresas do grupo Opportunity, por exemplo, repassaram, entre 2003 e 2005, R$25 milhões a mais do que entre 2000 e 2003 para as empresas de Valério.

A Amazônia Celular, que entre 2000 e 2001 gastou R$168 mil com a DNA, depositou em 2003, 2004 e 2005 R$23,239 milhões nas contas da agência. O mesmo aconteceu com a Amazônia Celular do Maranhão, que entre 2000 e 2002 só tinha depositado R$139 mil, e apenas em 2003 gastou R$7,7 milhões.

A Telemig não alterou o padrão de gastos. Em 2000, 2001 e 2002, a empresa gastou R$49,379 milhões com publicidade feita por intermédio das agências de Valério. Entre 2003, 2004 e 2005, ficou em R$44,949 milhões.

Entre o material apreendido pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Minas Gerais, a CPI descobriu ainda pelo menos dez notas fiscais que não fazem parte da prestação de contas enviada pelas companhias telefônicas à comissão. Os números das notas não aparecem na lista enviada pelas companhias à CPI.

Doze caixas de documentos da DNA Propaganda seriam queimados

Os documentos que seriam queimados estavam em 12 caixas, com mais de duas mil notas fiscais da DNA Propaganda. Os papéis estavam sendo incinerados em dois tambores de ferro. O material foi apreendido, no dia 14 de julho, na casa do irmão do contador das empresas de Valério, Marco Aurélio Prata, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A tentativa de destruir essas notas chegou a ser usada pela Polícia Federal e pela própria CPI dos Correios para solicitar a prisão preventiva de Valério. O empresário negou ter qualquer participação na tentativa de destruir as notas.

Gravações telefônicas confirmaram intenção de destruir notas fiscais

Gravações telefônicas feitas pela polícia confirmaram, entretanto, a intenção do contador e do seu irmão, o policial aposentado Marco Túlio Prata, de destruir as notas fiscais emitidas pela agência de publicidade. Num dos diálogos, os dois tratam da ¿retirada das notas de um certo local¿. Em outro, o contador afirma que a papelada já não está no escritório.