Título: Democrata domina votos de brasileiros em NY
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 28/10/2004, Economia, p. 32

Entre os brasileiros de Nova York e estados vizinhos, vai dar Kerry. Todos os entrevistados pelo GLOBO declararam-se a favor do candidato democrata, menos um que tem a intenção de votar no independente Ralph Nader.

Nenhum deles tem algum amigo brasileiro que vai votar no presidente George W Bush. Mas garantir, garantir, ninguém pode porque os brasileiros não são identificáveis nas pesquisas de opinião nem nas estatísticas dos partidos.

Dos 80 mil brasileiros na região, 5% devem votar

Eles são muitos, mas jamais conseguiram se organizar e ter o peso político da comunidade hispânica, que é cortejada por todos os candidatos e já tornou indispensável o uso de algumas palavras em espanhol em discursos de democratas ou republicanos. O Consulado do Brasil estima que existam de 300 a 350 mil brasileiros nesta área, dos quais 75% são ilegais. Imagina-se que dos cerca de 80 mil regulares, 5% vão votar, mas concretamente ninguém sabe.

¿ Tentei organizar os brasileiros para votar mas não consegui. Uns não se registraram como eleitores, outros não ligam para isso ¿ diz Artur Nascimento, de 43 anos, terapeuta morador de Manhattan, que está animadíssimo para estrear a sua nacionalidade americana com o voto em Kerry.

Os brasileiros podem requerer a naturalização depois de cinco anos de green card (o documento que dá direito a trabalhar) ou após três anos de casamento com americanos. Para votar, ainda precisam se registrar como eleitores. Mas poucos cumprem esse ritual. Renato Batista, um líder comunitário de Nova Jersey, diz que no estado vizinho de Nova York só ¿mil ou mil e poucos¿ dos 70 mil a 80 mil brasileiros votarão.

¿ Eu e minha família vamos votar em Kerry. Queremos um mundo de paz e não queremos ninguém com intenções de dominar os outros ¿ diz ele.

Os brasileiros alinham-se com Kerry nas visões do democrata sobre política externa e questões sociais. É o caso de Herald Figueiredo Silva (administrador do escritório financeiro do Brasil em Nova York), Carlos Raimundo Calal (gerente da boutique de motos da BMW) e Gregory Heider (do banco de investimento Lazard). Mas alguns discordam da visão econômica do candidato, que consideram protecionista e desfavorável para o Brasil. Esta é a opinião, por exemplo, de Guilherme Zraick, que trabalha na área de promoção comercial do consulado, e de Ricardo Hallack, do mercado financeiro.

¿ O meu único grilo com Kerry é com as declarações dele contra outsourcing jobs (exportação de empregos) e proteção das indústrias americanas ¿ diz Ricardo.

As mulheres estão mais preocupadas com a questão de segurança mas não confiam em Bush. Tereza Costa e Joana Rodrigues Capla (funcionárias do consulado), Hosana Braga (massagista) e Jasmilina Pugliese (designer gráfica e ex-assistente de uma das filhas de Robert Kennedy) acham que Bush piorou o mundo.

¿ Não concordo com a agenda Bush em nada. Ele provocou um ódio e um perigo maiores no mundo ¿ afirma Tereza, casada com um americano que também vota nos democratas.

Mais razão ainda de ser contra a política Bush tem Hosana, cujo filho está no Iraque desde fevereiro deste ano.

¿ Bush tem muito sangue derramado ¿ lamenta.

Uma única voz desafinou o coro de apoio dos brasileiros a Kerry: Edilberto Mendes, editor-chefe do jornal ¿The Brasilians¿, vai votar em Nader:

¿ Kerry não me passa nada de democrata, no Bush também não voto. A discussão entre os dois não leva a nada.